Claudio Bernardes
A grande maioria das cidades tem de lidar com os efeitos das mudanças demográficas, e isso envolve compreender a relação entre a saúde da população e os sistemas de transporte.
Em razão do contínuo crescimento da população urbana, e do consequente aumento da demanda por mobilidade, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de integrar transporte e uso do solo, uma vez que as decisões acerca da localização das atividades na área urbana influenciam significativamente as opções de transporte e as escolhas das viagens.
Para modelar os efeitos na saúde da população das políticas de uso do solo e de intervenções no sistema de transporte, recente estudo coordenado pelo professor Mark Stevenson, da Universidade de Melbourne, na Austrália, selecionou seis cidades de acordo com o estágio de desenvolvimento do país, o nível de motorização no transporte, as disparidades geográficas e a quantidade de informações disponíveis sobre transporte e saúde. As escolhas foram Melbourne, Boston, Londres, Copenhague, São Paulo e Nova Déli.
Para o desenvolvimento do estudo, foi aplicada a avaliação ponderada de associações entre densidade, distâncias percorridas para chegar ao transporte público, diversidade de uso do solo e modos de transporte.
A relação entre a saúde da população e os parâmetros referentes ao transporte e o uso do solo foi avaliada considerando acidentes nas vias públicas, doenças cardiovasculares, diabetes e problemas respiratórios.
Para efeitos do estudo, foram feitas alterações teóricas nos modelos de uso do solo, emulando cidades mais compactas. A pesquisa simulou o aumento da densidade e da diversidade de usos em 30%, usando a mesma proporção na redução das distâncias até o transporte público. A modelagem de cidade compacta resultou num cenário de ganho em saúde em todas as cidades para diabetes, doenças respiratórias e cardiovasculares.
Contudo, nas cidades altamente motorizadas como Melbourne, Londres e Boston, os resultados com a modelagem de uma cidade mais compacta sugerem pequeno aumento nos acidentes, viários envolvendo ciclistas e pedestres. Isso aponta para a necessidade da construção de infraestrutura segura para que eles possam se movimentar com maior segurança pelas cidades mais adensadas.
O sedentarismo contribui para milhões de mortes por ano em todo o mundo. Entretanto, 20 minutos de atividade física diária podem melhorar a saúde e reduzir o risco de enfermidades. Caminhar até os locais de embarque para acessar diferentes meios de transporte, além da conexão entre moradia, trabalho, comércio e lazer, desde que em vias adequadas e seguras para pedestres, pode configurar uma excelente forma de exercício físico regular.
Acidentes de trânsito são responsáveis por mais de um milhão de mortes por ano no mundo. Pesquisas têm demonstrado que, quanto maior a distância percorrida por veículos, maior o índice de fatalidades. Portanto, reduzir percursos por meio da combinação de politicas de uso do solo e de transportes, pode ser importante caminho para a diminuição do número de vítimas no trânsito.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), 1,3 milhão de mortes acontecem todo ano por causa da poluição do ar, provocada, principalmente, por veículos. Os direcionamentos das viagens para o transporte de massa e a melhoria da tecnologia na produção de combustíveis podem reduzir a exposição das pessoas à poluição, e diminuir o risco de doenças pulmonares e coronárias.
Portanto, fica cada vez mais claro que um bom planejamento dos sistemas de mobilidade pode melhorar de forma substancial a saúde da população.
Claudio Bernardes é engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP.