Representatividade é diferencial competitivo e alia desenvolvimento tecnológico com inclusão de gênero
Por Roberta Marchesi*
A mobilidade é um componente indispensável para a dinâmica da sociedade contemporânea ao conectar pessoas e destinos, alimentando a economia e esboçando o futuro. E é nesse contexto que as crescentes presença e influência feminina nessa cadeia vem se firmando como uma peça-chave dessa engrenagem, apesar de passar despercebida em muitas estruturas organizacionais. A solidez da diversidade no mercado de trabalho é um motor potente para a inovação e prosperidade dos negócios, com foco na mobilidade.
O conceito de mobilidade é amplo e abrange desde a circulação de pedestres em grandes centros urbanos até sistemas de transporte público de alta tecnologia, onde todos exigem uma infraestrutura resiliente e adaptável. Isso proporciona uma gama de oportunidades para a participação feminina em diversas áreas profissionais. O histórico, no entanto, é predominantemente masculino: dados da União Europeia revelam que apenas cerca de 22% da força de trabalho global nos setores de transporte e mobilidade são compostos por mulheres. Essa estatística sublinha uma desigualdade persistente, especialmente em posições de liderança, onde as mulheres continuam sendo minoria. No Brasil, 14% das mulheres do setor metroferroviário ocupam algum cargo de liderança direta.
Essa disparidade reflete os desafios que as mulheres enfrentam ao buscar uma carreira na indústria da mobilidade. Conforme estudo realizado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) – em 2017, para cada quatro trabalhadores da indústria, um era mulher. Isso representa um contingente de 2,5 milhões de mulheres atuando em diversos setores industriais e na construção civil. Este é um campo extremamente relevante, tanto no aspecto gerencial quanto no desenvolvimento tecnológico, com espaço para representações diversas no ambiente profissional.
A presença feminina na indústria da mobilidade não é apenas uma questão de inclusão, mas também um impulsionador de vantagem competitiva. A diversidade de gênero introduz perspectivas únicas, estimula a criatividade e fomenta a inovação.
A liderança que está ciente desses vieses durante o processo de contratação desempenha um papel fundamental no fomento à inovação na mobilidade. Ao buscar ativamente superar os vieses de gênero e lutar pela diversidade, as organizações podem aproveitar uma gama mais ampla de perspectivas, ideias e experiências. As mulheres trazem percepções e abordagens únicas que podem impulsionar soluções criativas para os complexos desafios da mobilidade.
A educação e a formação acadêmica também desempenham um papel crucial na preparação das mulheres para essas carreiras. É importante incentivar a presença feminina em disciplinas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para aumentar a representatividade de gênero. As organizações líderes devem reafirmar seu compromisso contínuo de promover a diversidade. Este é um ativo que impulsiona a inovação e o sucesso, e a liderança traz consigo algumas responsabilidades para a transformação. Juntos, podemos moldar uma indústria de mobilidade mais inclusiva, inovadora e bem-sucedida para todos.
* Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Conselheira de Administração de empresas de transporte, Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento, Gestão e Logística.
Artigo publicado no jornal O Tempo, em 11 de março de 2024.