José Eduardo Ribeiro Copello*
Quando o maquinista Carlos Alberto Cunha conduziu o Trem Toshiba 003, acompanhado do supervisor Genielson Lopes e do coordenador Carlos Bastos, saindo da Estação Calçada às 19h52 de 13 de fevereiro, encerrou-se um ciclo na história da Bahia. Foi a última viagem do “Trem do Subúrbio”, carregando cerca de 150 passageiros nas 10 estações e 13,5km entre Calçada e Paripe.
Desde 23 de junho de 1860, quando inaugurado o trecho inicial sob concessão da Bahia and São Francisco Railway, os trens participaram da vida de milhares de baianos como principal meio de transporte. Em 1911, passou para os franco-belgas da Compagnie Chemins de Fer Federaux du l’Ést Brésilien e, a partir de 1934, foi encampado pela União através da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro.
Foram tempos áureos, sob o comando do ilustre Lauro Farani Pedreira de Freitas. Durante anos, a ferrovia foi a principal alternativa para chegar a inúmeras cidades do estado. Foram vários ciclos, vapor, diesel, elétrico, que inclusive impulsionou a chegada da energia elétrica no subúrbio.
Em 1957, o sistema foi integrado à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e, em 1988, à Companhia Brasileira de Trens Urbanos-CBTU, já limitado apenas ao trecho Calçada/Paripe. Mais recente, em 2005, passa à administração municipal até que, em 2013, foi transferido para o Estado, juntamente com as inacabadas obras do Metrô de Salvador, na segunda gestão do governador Jaques Wagner.
Solucionada a questão do metrô, que hoje possui 33km operando com serviço de excelência, o govenador Rui Costa determinou a expansão dos sistemas sobre trilhos como transporte estruturante para a Região Metropolitana, como ocorre nas metrópoles do mundo.
Além dos 5km do metrô, de Pirajá a Águas Claras, já com obras avançadas, chegou a vez do Subúrbio e outras regiões ganharem um sistema moderno, rápido, seguro e confortável. Nos últimos tempos, o “Trem do Subúrbio” atendia menos de 1% dos passageiros do transporte público de Salvador.
Vários motivos contribuíram para a baixa demanda, desde a mudança no planejamento do País, que preteriu o modal ferroviário em favor do rodoviário a partir dos anos 1950, até os planos urbanísticos municipais que deslocaram os destinos de emprego e serviços para outras áreas da cidade, determinando a perda de atratividade de um modal que só atende até a Calçada, sem integração com outros modais.
A tecnologia também não mais atendia aos atuais requisitos do transporte urbano, com baixa velocidade e intervalo de 40 minutos, determinando o novo investimento feito pelo Estado.
O novo sistema atenderá 170 mil passageiros por dia, em 25 estações e 23,3km, saindo do bairro Ilha de São João no município de Simões Filho, passando por todo o Subúrbio, Calçada, Soledade, Baixa de Quintas e integrando ao Metrô no Acesso Norte. Alcançará o Comércio, através conexão em São Joaquim.
As obras já foram iniciadas pela concessionária Metrogreen Skyrail,através de Parceria Público Privada(PPP) e os trechos serão entregues entre 24 e 36 meses.O passageiro contará com modernos trens elétricos não poluentes, ar condicionado, wi-fi, tarifa integrada com metrô e ônibus. O intervalo entre trens será de 4 minutos na hora pico com previsibilidade do tempo de viagem proporcionado por velocidades de 70 km/h num sistema monotrilho elevado usado em vários países do mundo.
A Estação Calçada contará com um Memorial Ferroviário e a acessibilidade ao subúrbio proporcionará novos investimentos, turismo, emprego e renda para seus moradores, que já desfrutam de forte gastronomia e da maravilhosa Baía de Todos os Santos como cartão postal. Já com as obras serão ofertados cerca de 2.500 empregos diretos.
Na visão de transporte, o novo sistema será a Linha 3 de uma robusta rede integrada sobre trilhos, sendo a Estação Acesso Norte a Central Station desta rede. De lá, se alcançará os “4 cantos da cidade”. Os Baianos que já se orgulham do metrô, certamente vão aprovar o novo sistema, com amplas vantagens para a mobilidade urbana da Região Metropolitana!
*José Eduardo Ribeiro Copello é presidente da Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB) e vice-presidente de Desenvolvimento da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).
Artigo publicado no Jornal A Tarde (BA), no dia 15 de fevereiro de 2021.