Por Joubert Flores
A proximidade das eleições traz à tona assuntos de interesse da população, sejam novas propostas ou a lembrança do que ficou para ser entregue e ainda não foi. Um tema urgente é a mobilidade urbana e, nele, as obras inacabadas da Linha 4 do metrô do Rio de Janeiro, na dependência de uma única estação (Gávea) para a conclusão. Candidatos precisam incluir no debate com a sociedade o futuro do metrô da Gávea e se comprometerem a entregá-la aos usuários.
A construção rompeu parâmetros da engenharia. Virou objeto de visitas de especialistas e estudantes do mundo inteiro pelo reconhecimento, até o momento, como a maior obra de infraestrutura urbana da América Latina.
Já com metade das escavações prontas, a obra foi paralisada há sete anos, a partir de uma decisão do governo do estado, que alegou não ter recursos naquele momento para seguir em frente.
Há ainda uma análise do Tribunal de Contas do Estado, segundo a qual a obra teria gerado prejuízos ao Erário — o que é contestado formalmente no órgão pela concessionária detentora do contrato, com a inclusão de dois laudos de reconhecidos especialistas independentes, provando que não houve danos aos cofres públicos.
A questão se arrasta ano após ano, privando a população do Rio da possibilidade de maior qualidade na mobilidade urbana. A estação que falta, na Zona Sul da cidade, não é para ricos, como críticos sem profundidade no estudo do tema insistem em classificar.
A estação Gávea significa integração e vida melhor para os numerosos trabalhadores no bairro que moram em locais distantes, mas têm que bater ponto diariamente para prestar serviço em escolas, shoppings, restaurantes, postos de saúde e todo o comércio local.
Certamente, a estação melhorará a mobilidade em mais cinco bairros, aumentando a conexão entre as zonas Norte, Sul, Oeste e o Centro, além de propiciar, tal como as demais estações, a integração com outros modais, como ônibus e trens.
A Gávea é também estação estratégica para futuras expansões do metrô. Somente a partir dela é que outras conexões poderão ser feitas.
Mas, para a obra andar e atender à demanda dos futuros usuários, é preciso entendimento entre as partes. Quanto à questão operacional, antes de mais nada, os dois poços onde a estação ficará terão de ser esvaziados, retirando os 36 milhões de litros d’água que sustentam a estrutura e oferecem a situação atual de estabilidade da obra. Embora sejam cumpridos padrões elevados de segurança, é importante uma solução definitiva.
A operação de esvaziamento dos poços demanda tempo e todos os cuidados que uma obra de grande porte exige. Para a finalização da estação por inteiro, faltam as intervenções estruturais, a escavação de apenas 1,2 km de túneis com o tatuzão, implantação de sistemas e os acabamentos. A estimativa é que, uma vez retomada, a obra dure 36 meses.
Além de beneficiar a vida das pessoas com mais e melhor mobilidade e integração para quem mora longe do trabalho, a retomada das obras na Gávea gerará três mil empregos, o que se refletirá no aquecimento da economia. Trata-se de uma situação em que todos os fatores resultam em soma. Entretanto, esperar mais tempo sem fazer nada resultará numa equação de subtração para a população.
* Engenheiro eletricista, foi diretor do MetrôRio
É Presidente do Conselho Administrativo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos
19/06/2022 – O Globo