Jean Pejo e Peter Alouche*
Como é sabido, o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP), padece de uma ligação rápida e confortável com a cidade de São Paulo. Talvez seja um dos poucos aeroportos do mundo que não atende os viajantes com um transporte sobre trilhos, rápido, confiável e seguro. O governo de São Paulo implantou, com grande esforço e muitos recursos financeiros, a linha 13-Jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), para garantir a ligação com a rede metroferroviária da metrópole.
A linha 13, no entanto, não alcança ainda os terminais de embarque e desembarque do aeroporto, mas essa ligação —aliás, como ocorre em muitos aeroportos do mundo— será completada por um sistema guiado, automático, em elevado: o chamado “people mover”.
Essa configuração foi prevista quando da elaboração do projeto da linha 13 da CPTM e preestabelecida com a concessionária do aeroporto, a GRU Airport. Ao longo de 2019, após tratativas do governo de São Paulo com o governo federal, através do Ministério da Infraestrutura e da Anac, foi acordado que a contratação dos serviços para implantação e operação do “people mover” ficaria a cargo da GRU Airport. A concessionária realizou estudos aprofundados de viabilidade técnica, econômica e ambiental para, em seguida, lançar o edital de fornecimento do “people mover”.
Enquanto o “people mover” não está implantado, os usuários de aeroporto, muitos vindo ou com destino a outros países, enfrentam uma baldeação lenta, penosa, difícil e não confiável através de um sistema de ônibus sujeito ao difícil trânsito local. Essa desconfortável baldeação tem sido um dos fatores críticos que têm levado muitos usuários do aeroporto a não optar pelo trem da linha 13.
Quando a implantação do “people mover” já estava enfim estruturada, eis que é publicada nesta Folha uma informação, não confirmada, de que o Tribunal de Contas da União (TCU) seria favorável à manutenção do sistema de ônibus por considerá-lo satisfatório por conta da demanda atual. Um posicionamento, se real, questionável, porque a atual demanda é justamente reprimida pela falta de acesso rápido aos terminais do aeroporto, o que incentiva as pessoas ao uso do transporte individual. Com o “people mover” instalado, a demanda crescerá muito para atingir o nível previsto nos estudos de viabilidade.
Vale lembrar que, pela deficiência do acesso final aos terminais, os investimentos na linha 13 da CPTM, que foram vultosos, ainda não atenderam plenamente seus objetivos. Por isso, podemos inferir que o TCU, ao apoiar o uso das linhas de ônibus, certamente não teve a seu dispor todos os dados para uma análise técnica balizada com a política pública. Sob o ponto de vista técnico, esse posicionamento nos parece um equívoco, porque não leva em conta que a demanda de usuários, prevista nos estudos, só se concretizará com a implantação do tão esperado “people mover”, um transporte moderno, rápido, seguro e confortável.
Também é oportuno lembrar as ações de modernização que estão sendo realizados pela CPTM. Aquisição de novos trens especiais para atender os usuários do aeroporto e importantes investimentos em sistemas de sinalização, que vão permitir intervalos mínimos entre composições, com os trens partindo da estação Brás e eliminando o transbordo na estação Engenheiro Goulart de forma a atrair mais passageiros. Investimentos que ficarão comprometido caso continue a dificuldade de acesso aos terminais de aeroporto.
Como se vê, a CPTM está fazendo a sua parte. Mas, para os viajantes do aeroporto de Cumbica, a dificuldade continua sendo a conexão da linha 13 aos terminais. O “people mover” é sem dúvida vital para que o maior aeroporto da América Latina tenha, à semelhança dos aeroportos das grandes metrópoles do mundo, um acesso rápido, seguro, confortável e confiável, com tempos de viagens programados e precisos. Vale lembrar que a falta do “last mile” —ou seja, do acesso final da linha 13 ao aeroporto—, foi duramente e amplamente criticada por toda a imprensa, assim como pela comunidade técnica em geral.
Nesse sentido, temos a grande expectativa e a real esperança de que o TCU vai rapidamente rever seu suposto posicionamento e defender, com firmeza, a implantação do “people mover” —para o bem da sociedade e dos recursos públicos já investidos na linha 13.
Jean Pejo
Engenheiro mecânico, é especialista em sistemas ferroviários de carga, passageiros e mobilidade urbana
Peter Alouche
Engenheiro eletricista e consultor nas áreas de tecnologia e transporte, é ex-assessor técnico da presidência do Metrô de São Paulo
06/03/2020 – Folha de S.Paulo