Por Roberta Marchesi

Após dois anos do decreto da pandemia mundial da Covid-19, a sociedade e a economia ainda amargam os efeitos da crise gerada pelo vírus. Mesmo com a retomada das atividades presenciais, nada será como antes. Vivenciamos uma das maiores transformações sociais e econômicas que o mundo atravessou nas últimas décadas, com impactantes alterações na maioria dos setores da sociedade, especialmente aqueles voltados à circulação das pessoas.

Atrelado aos modelos híbridos ou remotos de trabalho e estudo e à ampliação exponencial do mercado digital, verifica-se uma forte alteração do padrão de deslocamento das pessoas nas cidades, afetando, principalmente, o transporte público, que tem o trabalho e o estudo como principais motivos de viagens dos passageiros.

No primeiro ano da pandemia, o transporte sobre trilhos amargou uma elevada redução no número de passageiros, fechando o ano com apenas 46% do volume normalmente esperado. Para 2021, era aguardada uma retomada maior, mas com a vinda da 2ª e 3ª ondas da Covid-19 e a permanência das alterações de comportamento social, o número não passou dos 56%.

Como reflexo dessa contínua redução de passageiros, da impossibilidade de redução dos serviços de transporte e com os custos fortemente impactados pelo aumento dos preços, os operadores brasileiros vivenciam, até hoje, a maior crise setorial da história do transporte público, registrando um déficit financeiro que ultrapassa os -R$ 9 bilhões, medidos ao longo desses últimos dois anos.

Sem nenhuma política de apoio específico, o Brasil caminhou na contramão do restante das grandes Nações, que, logo no início da pandemia, decretaram medidas para garantir a sustentabilidade do transporte público à toda a população. Como reflexo, após dois anos de pandemia, ainda estamos envoltos com a crise do transporte público, que tem sido amplamente discutida por Prefeitos e Governadores, mas sem nenhum avanço efetivo.

Mesmo diante de sua maior crise, os sistemas metroferroviários de passageiros mantiveram a sua responsabilidade, atendendo a população com rapidez e previsibilidade. Os índices setoriais apresentados no Balanço do Setor Metroferroviário 2021/2022 demonstram a performance positiva das operações no Brasil, mostrando que o setor trabalha com 99,9% de confiabilidade e 97,6% de regularidade na prestação de serviços em 2021.

Estamos entrando no 3º ano de pandemia e o cenário ainda é crítico e incerto para o transporte público. Com a proximidade do período eleitoral é importante que os candidatos estejam atentos às demandas desse setor e à sua importância para toda sociedade. É fundamental buscar medidas efetivas que possam auxiliar o setor a superar essa crise e, ao mesmo tempo, buscar desenvolver políticas públicas que garantam o necessário avanço do transporte público sobre trilhos e a qualificação da mobilidade dos brasileiros.

* Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), graduada e Mestre em Economia, com pós-graduações nas áreas de Planejamento, Orçamento, Gestão, Mobilidade e Logística e certificação internacional em Gestão de Transportes Ferroviários e Metroferroviários.

Artigo publicado no jornal O Tempo (MG).

 

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