Linha que interliga Estação Aeroporto do metrô e Terminal de Passageiros do Salgado Filho já transportou mais de 7,4 milhões de passageiros.
Há dez anos, na manhã de 10 de agosto de 2013, ocorreu em Porto Alegre a cerimônia de inauguração da linha metrô-aeroporto do aeromóvel, com participação da então presidenta Dilma Rousseff. Na ocasião, a linha implantada pela Trensurb abriu suas portas ao público, ainda em operação experimental, em horário reduzido. Em maio de 2014, passou a operar comercialmente e em horário integral. Desde sua inauguração, já transportou mais de 7,4 milhões de passageiros em quase 580 mil viagens, com média de 2.284 embarques por dia útil. Somente no primeiro semestre deste ano, 278.071 passageiros utilizaram a linha. A média foi de 1.738 usuários por dia útil.
Do sonho à realidade
Um sistema de transporte por propulsão a ar, o aeromóvel teve seu conceito criado na década de 1960 pelo empresário e inventor Oskar Coester, nascido em Pelotas, em 1938, e falecido em Porto Alegre, em 2020. Com a invenção, ele buscava contribuir com a mobilidade urbana e o uso de fontes de energia limpas. A primeira experiência prática da tecnologia foi realizada em 1977, com a construção de um protótipo. Em 1979, após avaliações com a participação de instituições de pesquisa, a empresa de Coester firmou contrato com a antiga Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) para testes adicionais. Em 1980, um veículo da tecnologia foi instalado na Feira de Hannover, na Alemanha, e, mais tarde, no Parque Assis Brasil, em Esteio. Em 1981, o Ministério dos Transportes contratou a construção da linha-piloto na Avenida Loureiro da Silva, em Porto Alegre. Em 1982, a linha começou a ser construída, porém o repasse dos recursos foi suspenso. Em 1983, com recursos privados, a construção prosseguiu, a linha foi inaugurada e as primeiras viagens foram realizadas. Em 1987, a linha-piloto foi estendida por meio de um financiamento. Em 1988, teve início a construção da linha do aeromóvel em Jacarta, na Indonésia, inaugurada no ano seguinte.
Foi somente mais de 20 anos depois, em agosto de 2010, que a Trensurb firmou a contratação da implantação da tecnologia para interligar metrô e aeroporto. No dia do início das obras da via elevada, em agosto de 2011, Coester afirmou: “Toda inovação eficaz é surpreendentemente simples. Ao mesmo tempo, difícil e demorada de ser compreendida”. O projeto foi uma resposta à necessidade de qualificação da integração dos sistemas de transporte às áreas aeroportuárias, apontada pelo antigo Ministério das Cidades frente ao relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito da Crise do Tráfego Aéreo, de 2007. Buscou cumprir ainda uma diretriz do governo federal à época, de que empresas estatais investissem em projetos de infraestrutura e inovação tecnológica, servindo como projeto-piloto para a eventual expansão do modal para outros locais e fomentando também o desenvolvimento da indústria nacional. Todo o projeto foi desenvolvido no país, usando tecnologia 100% brasileira e movimentando uma cadeia produtiva que envolveu mais de 50 empresas e mil profissionais.
Durante a cerimônia de inauguração, há dez anos, Coester declarou, emocionado: “Sonhar é bom, realizar um sonho é melhor ainda. Mesmo que a palavra ‘obrigado’ signifique muito, não expressará por inteiro os meus agradecimentos a todos que ajudaram a realizar esse sonho que tem como objetivo único melhorar a vida das pessoas”. Na ocasião, a então presidenta Dilma definiu o projeto da seguinte forma: “Trata-se de um sonho feito com base no conhecimento científico e numa visão de um país em desenvolvimento, que tem a capacidade de realização. É um empreendimento não comum, não usual, revolucionário”.
A tecnologia aeromóvel
O aeromóvel é um meio de transporte automatizado, em via elevada, que utiliza veículos leves, não motorizados, com estruturas de sustentação esbeltas. Sua propulsão é pneumática – o ar é soprado por ventiladores industriais de alta eficiência energética, por meio de um duto localizado dentro da via elevada. O vento empurra uma aleta (semelhante a uma vela de barco) fixada por uma haste ao veículo, que se movimenta sobre rodas de aço em trilhos.
A linha da Trensurb é a primeira aplicação comercial da tecnologia no Brasil, permitindo integração e acesso rápido e direto ao terminal aeroportuário sem custo adicional para os usuários do metrô. O trajeto de 814 metros, com duas estações de embarque, é percorrido em 2 minutos e 35 segundos. Tudo isso com uso de energia limpa e de forma econômica, com custo médio de propulsão por passageiro de R$ 0,25 desde a inauguração da linha e de R$ 0,37 no primeiro semestre deste ano.
Diretor-presidente da Trensurb, Fernando Marroni afirma que a tecnologia aeromóvel “é de fundamental importância por antecipar um tema de transição energética, porque ela é uma tecnologia mais eficiente que trens com tração. E nos alegra muito e nos deixa muito orgulhosos o fato de ser uma tecnologia genuinamente gaúcha, que hoje é exportada para o Brasil e para o exterior”. Marroni também exalta o fato de, hoje, haver um fabricante gaúcho – a empresa Marcopolo – que está fornecendo os veículos que irão operar a linha do aeromóvel em Guarulhos (SP). Além do orgulho, o diretor-presidente ressalta a responsabilidade da Trensurb em ser uma grande amostra da tecnologia inovadora em operação, atraindo visitantes interessados vindos de todo o planeta. Nesse sentido, segundo Marroni, “o papel da Trensurb é receber bem [esses visitantes], mostrar de fato a tecnologia e, inclusive, quais são os aperfeiçoamentos que podem ser feitos, e isso já está acontecendo em relação à nova implantação no Aeroporto de Cumbica”. Por fim, o diretor-presidente destaca “a expertise que a Trensurb adquiriu nesta operação”, que pode ser compartilhada com novos operadores da tecnologia.
O metroviário Ernani Fagundes foi superintendente de Desenvolvimento e Expansão da Trensurb durante a implantação da linha, sendo um dos responsáveis por coordenar o projeto. Hoje, é diretor de Operações da estatal, tendo como uma de suas atribuições a gestão da operação e manutenção do aeromóvel metrô-aeroporto. Sobre o papel da Trensurb ao fomentar o desenvolvimento da tecnologia, o diretor afirma ter um sentimento de dever cumprido. “Um dos fundamentos da mobilidade urbana é criar facilidades de acesso e de deslocamentos, e a Trensurb cumpre o seu papel plenamente com aplicação dessa tecnologia”, afirma. “Nós adquirimos a inovação tecnológica do aeromóvel, que tem fundamentos muito sólidos de uma tecnologia genuinamente brasileira, e isso coloca a Trensurb na vanguarda do que se propõe hoje do ponto de vista ambiental, afinal, nós temos um sistema de trens com tração de energia elétrica e temos um veículo aeromóvel que usa a transformação da energia elétrica em eólica, movimentando o veículo com essas características que são inéditas no país e até em nível mundial”, completa.
09/08/2023 – Trensurb