Acordo da Estação Gávea pode destravar projetos empacados para expansão do metrô, como ligação entre Estácio e Praça Quinze

Obras da estação na Zona Sul dependem da retirada da água do buraco, estratégia usada para evitar que a estrutura desmoronasse

03/10/2024 – O Globo

A assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que garante a retomada das obras da Estação Gávea, paralisadas desde 2015 após suspeitas de superfaturamento, poderá destravar outros projetos empacados para a expansão do metrô. Durante solenidade ontem no Palácio Guanabara, o governador Cláudio Castro anunciou que o próximo trecho no radar é a ligação entre a Estação Estácio e a Praça Quinze, passando pela Carioca, apesar de o estado estar passando por um período de dificuldades financeiras e projetando déficit orçamentário de R$ 14,6 bilhões para 2025:

— Uma licitação que está no meu coração e no do Washington (Reis, secretário de Transporte) é a ligação entre Estácio e Praça Quinze. Ela é fundamental para o sistema. Talvez, neste momento, até mais importante do que a ampliação da Linha 4. Ela salvaria as barcas (o número de viagens caiu de 1,2 milhão por mês, em 2019, para 747.876, em 2023).

Segundo Reis, a intenção do estado é licitar a elaboração do projeto do trecho Estácio-Praça Quinze. No mesmo pacote, afirmou ele, serão relançadas concorrências, também para estudos, que foram canceladas por determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE): a Linha 3 (Praça Quinze-São Gonçalo, passando sob a Baía de Guanabara); e o trecho da Linha 4 entre o Jardim Oceânico (na Barra) e o Recreio dos Bandeirantes. A Linha 3, a propósito, já foi objeto de mais de duas dezenas de promessas, mudanças de traçado e anúncios de licitações para estudos e obras.

Mais de 178km projetados

O último plano diretor do metrô, de 2017, somado ao Metrô Leve da Baixada (Pavuna-Nova Iguaçu) — prometido por Castro durante campanha para a reeleição — prevê mais de 178 quilômetros de trilhos, que não saíram do papel. Seriam mais 13 trechos. A execução de todos custaria mais de R$ 80 bilhões.

Entre especialistas, a ligação entre Estácio e Praça Quinze, complementando a Linha 2 (que hoje vai da Pavuna a Botafogo), é a mais urgente. A Associação Fluminense de Preservação Ferroviária estima que ela poderia aumentar em 400 mil a média diária de usuários do metrô, que hoje está em 627 mil passageiros por dia. A entidade também considera prioritário levar o metrô da Pavuna a Belford Roxo. Já cálculos do governo, que chegou a dizer que usaria parte dos recursos da concessão da Cedae no Metrô Leve da Baixada, 370 mil pessoas usariam o trecho entre Pavuna e Nova Iguaçu por dia.

Presidente do Conselho Administrativo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPtrilhos), Joubert Flores lembra que, em 1968, quando foi feito o primeiro traçado de linhas do metrô carioca, a ligação entre o Estácio e a Praça Quinze já integrava a Linha 2.

— Hoje, você faz a Linha 2 entrar na Central e ir até Botafogo. Mas parte desses passageiros poderia ir direto até o Centro da cidade. Existe demanda — diz ele.

Segundo Flores, a plataforma da Estação Carioca destinada à Linha 2 está 30% concluída. Fundador do Movimento Metrô que o Rio Precisa, Atilio Flegner chegou a visitar o local em 2015:

— A ligação entre Estácio e Praça Quinze desafogaria a Linha 2. As estações da Linha 2 foram projetadas para oito vagões de metrô, enquanto as da Linha 1 para seis. Mas os trens da Linha 2 têm que manobrar em Botafogo e, por isso, só podem ter seis vagões.

Morosidade no Rio

Joubert Flores critica a morosidade da ampliação do metrô carioca. Enquanto o sistema do Rio tem 41 estações e 54,4 quilômetros de extensão, o de São Paulo tem 104,4 quilômetros e 91 estações.

— O metrô de São Paulo começou a operar em 1974. O do Rio, em 1979. O do Rio tem praticamente o mesmo desenho desde 1968, com alguns acréscimos, devendo ainda muita coisa — analisa.

Já o professor aposentado do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ Ronaldo Balassiano se mostra cético em relação à expansão do metrô carioca:

— Para se fazer metrô, é preciso muito planejamento, além de dinheiro.

Enquanto a fila de projetos não anda, Cláudio Castro lembrou que as obras da Estação Gávea dependem da retirada da água do buraco, estratégia usada para evitar que a estrutura desmoronasse.

— Tudo o que está ali embaixo vai ter que se revisto. O primeiro passo é tirar a água. E as empresas vão nos passar um relatório real — disse ele. — Terei muito orgulho de poder inaugurar ainda no meu governo, mas só teremos a real dimensão da obra e do tempo necessário após a reavaliação.

Tatuzão: indefinição

Castro afirmou ainda que vai mexer no Tatuzão, máquina enterrada no Alto Leblon, que deveria perfurar o túnel até a Estação Gávea. Mas a assessoria da Secretaria estadual de Transporte e Mobilidade informou, posteriormente, que a Tunnel Boring Machine “está sob responsabilidade do consórcio que realizou a obra”. E o Consórcio Rio Barra, citado pelo governo, informou, por sua vez, que a atribuição é do estado.

Por enquanto, o prazo para início das obras na Gávea é de 60 dias. Conforme o acordo, a MetrôRio investirá R$ 600 milhões, tendo como contrapartida a unificação da concessão das três linhas de metrô (1,2 e 4) e a prorrogação do contrato até 2048. O estado fará o aporte de R$ 97 milhões, mas reservou R$ 300 milhões para “possíveis intercorrências”. Além da estação, será concluída a ligação São Conrado-Gávea, o que exigirá que o passageiro faça baldeação. O trecho de 1,2 quilômetro não perfurado, entre o Alto Leblon e a Gávea, permanece entre os projetos para o futuro.

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