Crescimento sobre trilhos

Sistema metroferroviário brasileiro deve ser expandido em 50 km em 2016, maior índice em 20 anos; iniciativa privada desponta como alternativa

A primeira linha de metrô no mundo foi implementada em 1863, em uma Londres que vivia intensamente os reflexos da Revolução Industrial. Na América do Sul, o modal chegou 50 anos mais tarde, na sempre vanguardista Buenos Aires. O Brasil, por sua vez, somente investiu nessa categoria de transporte em 1974, após as duas guerras mundiais e mais de um século após a capital britânica, quando São Paulo passou a oferecer o serviço aos seus habitantes. Enquanto os Estados Unidos, na década de 1970, já investiam nos primeiros projetos de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o Brasil teve acesso a esse meio apenas na década de 1990, ainda de maneira tímida e pontual. Isso gerou, por aqui, um gap histórico no transporte de passageiros sobre trilhos.

Em função desse atraso, as capitais brasileiras convivem, hoje, com uma rede que registra baixo crescimento da sua extensão territorial, e que está longe de resolver o problema da saturação da demanda.

A despeito da secular ausência de investimentos na área, o ano de 2016 deve se destacar como um ponto fora da curva para o transporte de passageiros sobre trilhos, apresentando, pela primeira vez, crescimento da rede superior ao da demanda.

Com as inaugurações, no Rio de Janeiro (RJ), da Linha 4 do Metrô e da primeira etapa do VLT da zona portuária, além da extensão do VLT da Baixada Santista (SP) e da primeira fase da Linha 2 do Metrô de Salvador (BA), o Brasil terá, até o final do ano, mais 50,2 quilômetros em novas linhas – um incremento de 20%. No último ano, foram transportados 2,92 milhões de passageiros, o que representa crescimento de apenas 1,7% na comparação com 2014. Os dados são do Balanço do Setor Metroferroviário de Passageiros 2015/2016, divulgado pela ANPTrilhos
(Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos).

O cenário ainda está longe do ideal. Mesmo com a realização dos maiores eventos esportivos do mundo – Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 –, sob a pretensa certeza de que essas competições revolucionariam a mobilidade urbana brasileira, o país pouco evoluiu nesse departamento, consolidando apenas 1.012 quilômetros em trilhos urbanos, já considerando as novas linhas. Para efeito de comparação, somente Pequim e Xangai, duas cidades chineses, têm, juntas, 1.035 quilômetros de linhas de metrô.

“Se olharmos os tamanhos das cidades brasileiras e a extensão territorial do Brasil, temos uma rede muito ‘acanhada’. Até 2014, a demanda de passageiros crescia a uma média anual de 10%, ao passo que a taxa de crescimento do sistema era de 3%, gerando uma saturação. Essa perspectiva teve uma pequena reviravolta com as inaugurações dessas obras. O ideal, agora, é que essa taxa de crescimento seja mantida”, avalia Joubert Flores, presidente da ANPTrilhos.

Em tempos de franca retração econômica, o maior desafio para o setor é assegurar manutenção dos investimentos para os projetos já licitados e contratados.

Atualmente, o Brasil está implantando 11 novos projetos para o transporte de passageiros sobre trilhos: VLT Cuiabá (MS); VLT Goiânia (GO); Linha 6-Laranja (SP), Linha 13-Jade (SP), Monotrilho da Linha 15-Prata (SP), Monotrilho da Linha 17-Ouro (SP), Monotrilho da Linha 18-Bronze (SP) e VLT da Baixada Santista (SP); Linha Leste do Metrô e VLT de Fortaleza (CE); Metrô de Salvador (BA).

O presidente da ANPTrilhos defende que as políticas públicas priorizem os projetos e obras de transporte de passageiros sobre trilhos já em andamento, buscando garantir a sua continuidade e os benefícios que a implantação desses sistemas gerará para a mobilidade das cidades e para seus usuários.

“Apesar de ter perdido uma série de oportunidades, principalmente com a Copa do Mundo de 2014, muitos projetos foram iniciados, porém não finalizados. Mas, em algum momento, serão concluídos. Nós temos mais 18 projetos em condições de serem iniciados imediatamente. Se parte desses projetos sair do papel, podemos ter uma evolução significativa nos próximos anos.”

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Agosto 2016 – Revista CNT Transporte Atual