Símbolo da revitalização da Região Portuária do Rio e referência mundial de projeto sustentável, o Museu do Amanhã recebeu na última quinta-feira, 28 de janeiro, o seminário “Os Jogos Olímpicos e a Transformação do Rio de Janeiro”. Promovido pelo O Globo, o evento contou com a participação do prefeito Eduardo Paes, do governador Luiz Fernando Pezão e do presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, que abriram os debates.
No centro das discussões, o despertar da cidade. Para o prefeito, há tempos a antiga capital federal buscava uma nova identidade, que deveria passar por suas belezas naturais, mas não se esgotar nelas. Os Jogos foram o caminho. Ao ilustrar o objetivo perseguido desde 2009, quando o Rio foi anunciado o anfitrião de 2016, Paes relembrou uma conversa com Pasqual Maragall, prefeito de Barcelona durante os Jogos de 1992.
— Ele me disse: “Eduardo, há dois tipos de Jogos Olímpicos, o que se serve da cidade e o que permite que a cidade se sirva dele”. Nós escolhemos a segunda opção para o Rio – afirmou.
Os Jogos foram o ponto de partida para atrair investimentos, como apontou em suas palestras o diretor de projetos da Empresa Olímpica Municipal (EOM), Roberto Ainbinder, e o presidente da EOM, Joaquim Monteiro. Esmiuçando números, mostraram que mais de 60% do custo dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 estão sendo pagos por Parcerias Público -Privada, as PPPs.
— As PPPs foram a forma de entregar projetos mais rapidamente à população – explicou o secretário especial de Concessões e PPPs do Rio de Janeiro, Jorge Arraes, citando o Parque Olímpico da Barra, o Porto Maravilha e o VLT Carioca como exemplos bem-sucedidos do formato.
O prefeito Eduardo Paes anunciou que novas PPPs serão lançadas, para levar o BRT ao centro da Ilha do Governador e fazer a ligação entre Botafogo e Jardim Botânico, por exemplo. Há também projetos para o zoológico, para carros elétricos, estacionamentos, a Nova Rodoviária e o Polo de Cine e Vídeo, de acordo com Arraes.
Presidente da Odebrecht TransPort, Paulo Cesena contou que o modelo deu tão certo que melhorias foram adiantadas:
— Nossa obrigação contratual era a de adquirir trens novos para a SuperVia só depois dos Jogos. Eles já estão em operação. São 120 novos trens, adquiridos junto com o governo do estado. Hoje, 93% das viagens já são com ar condicionado — disse. A empresa também participa das concessões do VLT, do Galeão e da TransOlímpica.
Tendo como palco o Museu do Amanhã, o seminário não poderia deixar de abordar o futuro imediato. Assim, o secretário de Transporte estadual, Carlos Roberto Osório, detalhou os projetos para expansão da Linha 2 do metrô, implantação da Linha 3 e o Plano Diretor Metroviário, que pensa na malha do sistema até 2045.
Diretor de investimentos da Odebrecht, grupo econômico que participa dos projetos olímpicos do Rio como investidor, construtor e operador, Otávio França destacou que a sustentabilidade financeira fez parte do planejamento desde o início:
— Os projetos do Rio foram elaborados dentro das premissas da sustentabilidade financeira. O mérito do poder público foi oferecer garantias que não oneraram os cofres públicos e, ao mesmo tempo, atraíram os investimentos da iniciativa privada — disse.
Aos poucos, o Rio supera a fase ‘canteiro de obras’, descortinando museus, praças, metrôs, centros esportivos e outras soluções que integram e reintegram o cidadão. Os Jogos não esgotam as necessidades da cidade, mas a ajudam a subir degraus em velocidade surpreendente. “Que seja o início de um ciclo de transformações”, resumiu o prefeito Eduardo Paes.
Por um futuro sem medo da iniciativa privada
“O amanhã é hoje”, anunciou Paulo Cesena em sua apresentação no painel “Investimento Privado na Construção de uma Cidade”. O presidente da Odebrecht Transport não quis apenas usar uma frase de efeito. Ela se justificou pelo resultado das PPPs na mudança urbanística da cidade nos últimos seis anos.
“A gente vive de investimentos em concessões e PPPs. Mas foi no Rio que a gente viu efetivamente os projetos saírem do papel e se tornarem realidade. Temos quatro concessões nesse momento: VLT, TransOlímpica, Galeão e SuperVia. Mobilizamos investimentos de quase R$ 9 bilhões nesses quatro projetos com nossos parceiros”.
O prefeito Eduardo Paes disse que a transformação na cidade não é o fim, mas o início de um ciclo. E o governador Pezão concordou: “Vamos nos preparar para um estado não dependente do petróleo. É desse futuro que quero falar: sem medo da iniciativa privada”.
O Rio de Janeiro não ganhou o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016 por ser a cidade mais preparada e com melhor infraestrutura entre as candidatas, e sim por ser a com mais problemas urbanos. Um dos convidados da abertura do seminário, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, lembrou que fotos de engarrafamentos e alagamentos, entre outros problemas, tiveram destaque no dossiê de candidatura do Rio.
“A premissa do nosso projeto olímpico tem relação direta com o desenvolvimento da cidade. Sempre acreditei nesse projeto como transformador”, disse ele. “Nem nos meus mais lindos sonhos pensei que fôssemos entregar tanto. O metrô, por exemplo, não era um compromisso olímpico, como os piscinões da Praça da Bandeira. Não faria diferença nenhuma, para os Jogos, revitalizar a Região Portuária, fazer o Museu do Amanhã, implantar VLT. Mas a Olimpíada nos proporcionou isso.”
Com duas medalhas de bronze olímpicas no currículo – Seul 1988 e Atlanta 1996 –, o velejador Lars Grael levou ao seminário a perspectiva de um atleta olímpico e com deficiência física no painel “Mobilidade e Acessibilidade – da SuperVia ao VLT”. Ex-secretário nacional de Esportes, Lars colaborou com a visão de quem conhece política desportiva. “O Brasil tem uma das legislações mais completas em relação ao direito do deficiente. Mas com uma singularidade: faculta-se à sociedade que a lei seja cumprida ou não”, disse, antes de definir: “Nosso papel é o de derrubar barreiras urbanísticas, de pensamento, de atitude, nos transportes…”, enumerou, referindo-se a mudanças em direção a uma maior acessibilidade, com respeito ao direito da pessoa com deficiência.