Empreiteiras abandonam obra de monotrilho

O Metrô de São Paulo rescindiu contrato com o consórcio formado por Andrade Gutierrez e CR Almeida para a construção de parte da Linha 17-Ouro, que liga o aeroporto de Congonhas à estação Morumbi da CPTM, na zona Sul da capital paulista. O Metrô diz que as empreiteiras abandonaram a obra e pode multar o consórcio em mais de R$ 100 milhões. É o segundo caso de abandono de obras do Metrô em seis meses. O primeiro foi anunciado em julho, quando o governo rompeu, por atraso, contrato que tinha com a espanhola Isolux para a construção de estações da linha 4-Amarela.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a Andrade Gutierrez e a CR Almeida abandonaram as obras do monotrilho no fim do ano. As companhias eram responsáveis pela construção do pátio de manobras de trens e por três das oito estações. Procurada, a Andrade Gutierrez não quis comentar. Já a CR Almeida retornou os pedidos de entrevista. As duas empresas estão sendo investigadas pela Polícia Federal no âmbito da operação Lava-Jato, que apura desvios em contratos da Petrobras.

O ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo está preso desde junho. Na quinta-feira passada, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, negou habeas corpus a Azevedo e Elton Negrão, outro executivo da construtora.

A CR Almeida é uma das empresas citadas em planilha apreendida no escritório do doleiro e delator Alberto Youssef – peça central da Operação Lava-Jato – em São Paulo, que relaciona 747 projetos suspeitos de irregularidades em estatais, órgãos públicos estaduais, prefeituras e empresas privadas.

Vistorias feitas pelo Metrô no começo de dezembro indicaram o abandono da obra do monotrilho. Ao longo do mês, as empresas foram notificadas para retomar os trabalhos, o que não ocorreu. Na semana passada, as empresas formalizaram a saída alegando dificuldades para executar as obras dentro do orçamento previsto.

A construção do pátio era orçada em mais de R$ 268 milhões e recebeu aditivo superior a R$ 48 milhões. Já as três estações custariam mais de R$ 129 milhões, mas o valor da obra foi reduzido para quase R$ 120 milhões. Do total de R$ 436 milhões das obras, R$ 199 milhões foram pagos até dezembro.

O Valor apurou que o Metrô vai procurar o segundo colocado na licitação das obras para ver se há interesse em assumir os trechos abandonados pelas construtoras. No caso das estações da Linha 4, o governo paulista foi obrigado a lançar um novo edital. O monotrilho foi prometido para ser entregue antes da Copa de 2014, ligando Congonhas ao bairro do Morumbi. Após adiamentos, a expectativa é que parte das obras seja concluída no ano que vem e outra em 2019.

18/01/2016 – Valor Online