Cidades terão veículos modernos, mas falta integração de modais urbanos

As obras de transporte urbano que serão realizadas nos próximos anos no Brasil deixarão o país mais perto de inovações tecnológicas vistas em regiões consideradas exemplo de mobilidade ao redor do mundo.

Há, por exemplo, obras de BRTs (transporte rápido por ônibus, na sigla em inglês), adotados por países como Espanha, Suíça e Colômbia, em diversas cidades brasileiras. O VLT (veículo leve sobre trilho), espécie de bonde moderno utilizado em países europeus, também será adotado nos próximos anos.

As novidades não estão apenas nos modelos a ser implementados –há também soluções para sistemas já conhecidos. É o caso do metrô sem condutor, implementado na linha 4-amarela do metrô de São Paulo, capaz de aumentar a eficiência energética e reduzir o intervalo entre os trens em até 40%, segundo a Siemens, responsável pela tecnologia.

A partir de 2020, os passageiros da linha 6-laranja também poderão usufruir da tecnologia. “Os sistemas são modernos, comparáveis aos melhores do mundo”, diz Gustavo Guerra, presidente da Odebrecht Mobilidade, parte do consórcio que realiza a construção da linha 6.

Mas, de acordo com especialistas, faltam na ampliação da oferta de transporte projetos que aumentem a integração entre os modais.

“Temos que integrar o ônibus, o BRT, o VLT, o monotrilho, e também pensar nas pessoas que completam seus percursos a pé ou de bicicleta”, afirma Clodoaldo Pelissioni, secretário de Transportes Metropolitano de SP.

O professor da Unicamp Carlos Alberto Bandeira Guimarães cita a importância de terminais de transferência entre o transporte sobre trilhos e os ônibus.

“O metrô é bonito, moderno, mas quando o passageiro sai do trem, precisa andar vários quarteirões na chuva para pegar o ônibus”, diz consultor Horácio Figueira. “Isso é rudimentar, e parece que ninguém quer resolver.”

Para ele, isso acontece porque ninguém quer arcar com os custos extras. “Quem constrói o metrô não acha que é responsabilidade dele fazer, também, o terminal. Isso deveria ser dividido com o poder municipal”, afirma.

CONCORRÊNCIA

O presidente da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores sobre Trilhos), Joubert Flores, afirma que há, hoje, competição entre os modais, o que prejudica o funcionamento do sistema de transporte urbano.

Segundo ele, em regiões desenvolvidas há órgãos responsáveis por planejar e gerenciar o sistema para que ele seja eficiente mesmo sem competição, garantindo aos passageiros uma menor tarifa com qualidade.

Embora a integração melhore a experiência do usuário do transporte coletivo, alguns acreditam que ela não é suficiente para fazer com que parte da população abandone os meios privados de deslocamento.

Para isso, será preciso, ainda medidas que tornem proibitivo o custo de utilização do carro. “Na hora de escolher o modal, as pessoas levam em conta tempo e custo”, diz Eduardo Vasconcellos, assessor da ANTP (associação de transportes públicos). Para ele, o custo para circular com veículo próprio ainda é baixo. “Na Europa, você paga seis vezes mais para andar de carro que de coletivo. Aqui, paga-se a mesma coisa, ou até menos.”

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O QUE ESTÁ POR VIR

Obras de transporte urbano nos próximos anos

Metrô em São Paulo
>> O governo de Geraldo Alckmin vai conceder a operação da linha 5-lilás do metrô à iniciativa privada. Ela deve ganhar até 2018 mais 11,5 km, com dez novas estações

>> A linha 6-laranja, que vai ligar a Brasilândia até a estação São Joaquim, deve iniciar suas operações em 2020. Terá integração com duas linhas da CPTM

VLT
Os veículos leves sobre trilhos, espécie de bonde visto em países da Europa, terão operação em diversas cidades brasileiras, com início a partir do ano que vem. Entre os municípios com obras ou projetos para o VLT estão Rio, Fortaleza (CE), Salvador (BA), Goiânia (GO), Cuiabá (MT), Campinas (SP) e cidades da Baixada Santista, também em São Paulo

Trens
Além das duas linhas do monotrilho que serão construídas pelo governo do Estado de São Paulo, há outros projetos para o transporte ferroviário em andamento no país. Um exemplo é o trem intercidades, que vai ligar municípios do interior de SP. Há ainda o trem pé vermelho no Paraná e o regional entre Brasília e Luziânia (GO)

BRT
Chamado de transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês), o sistema é caracterizado por corredor exclusivo para que os veículos circulem com mais agilidade. Além disso, a cobrança é feita fora dos ônibus, para aumentar ainda mais a rapidez. Está em implementação em cidades como Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG) e Belém (PA)

27/11/2015 – Folha de S.Paulo