Porto Maravilha: o renascimento do Centro carioca

Desde a reinauguração da Praça Mauá não tinha tido oportunidade de ir vê-la com meus próprios olhos. Só no feriado do fim de semana passado consegui enfim (re)conhecê-la. O bloco Bunytos de Corpo (anote: sem dúvida, um dos melhores do Carnaval) sairia dali para fazer seu esquenta para a folia que se aproxima. Ali, em meio à Praça Mauá dois belos museus despontam num cenário aberto para o mar. De um lado, o mais novo Museu do Amanhã, todo lindo e imponente por fora, prestes a ser inaugurado – após muitos atrasos, fala-se em dezembro como data oficial. Do outro lado, o já conhecido e belo MAR, o Museu de Arte do Rio.

Muitas famílias, jovens, adultos, idosos andavam por ali curtindo o espaço, brincando, numa festa a céu aberto sem a poluição que outros prédios e, especialmente, a Perimetral causavam por ali. Uma das iniciativas mais alardeadas pelo prefeito Eduardo Paes, a revitalização dessa região, conhecida como Porto Maravilha, dá sinais de uma revolução que promete aportar nesse espaço. As festas mais interessantes do Rio hoje acontecem em espaços daquela região, na Sacadura 154, no Pier Mauá, na antiga fábrica Behring.

E não só. Ocupações artísticas chegam com força na região. E os jovens estão cada vez mais interessados em desbravar as possibilidades que ela tem a oferecer. É curioso e interessante acompanhar esse movimento, parecido com as ocupações conferidas em bairros de outros lugares do mundo, como Kreuzberg, em Berlim, ou Williamsburg, em Nova York – região hoje já gentrificada com avanço da especulação imobiliária. Hoje, esse processo de ocupação artística em Nova York invade ainda mais o Brooklyn nova-iorquino. É um processo natural, que ainda vai demorar um bom tempo para chegar ao Porto Maravilha.

Revitalizar essa região está entre as iniciativas mais interessantes de Eduardo Paes. Quando anunciada, houveram muitas dúvidas. Os eternos reféns dos veículos automotivos logo se revoltaram: “como Eduardo Paes vai destruir a Perimetral, o trânsito vai virar um inferno, esse cara é louco!!!”. O trânsito no Centro, é verdade, continua complicado. As obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ainda continuam. Mas dá pra notar que aquilo tem um enorme potencial para dar certo.

Uma gigantesca empresa do ramo de construção está de olho nesse movimento. E já negocia um interessante projeto para o Porto Maravilha para 2016, abrindo uma espécie de residência artística num grande prédio ali da região. O projeto abre espaço para artes e esportes de rua, como o grafite, o break, o skate, patins. E também para a gastronomia e o comércio, com um espaço público no meio.

Ao longo do percurso do Bunytos de Corpo (mais uma vez: procure saber!) foi lindo passear pelo Centro do Rio em pleno domingo. Um Centro ainda vazio, é verdade. Mas com grandes chances de virar uma região cheia de charme, cheirando a novo, ao contrário da desgastada Zona Sul. O Rio não é só a Zona Sul. Que venha o Porto Maravilha. Que seja abençoado – cuidado, visitado, ocupado. O medo é o melhor amigo da violência. E ocupar espaços vazios se faz necessário em uma cidade que é muito maior que Ipanema.

10/11/2015 – GQ Brasil – São Paulo/SP