Furtos de cabos: o cidadão paga a conta do vandalismo

O aumento dos roubos de fiação de cobre nas instalações da Light gera prejuízos à empresa e à sociedade, com ‘apagões’ que afetam transportes, hospitais e escolas
Funcionários da Light gastam até duas horas e meia para restabelecer o fornecimento de energia interrompido pelo roubo de cabos

08/10/2024 – O Globo / Informe da Por Light

É como um cabo de guerra em que você, cidadão, é a ponta mais fraca — ou seja, a corda vai estourar do seu lado. A analogia aqui é com um tipo de cabo específico, de cobre, amplamente utilizado nas redes elétricas da Light no Rio de Janeiro. Os criminosos estão furtando um número cada vez maior de cabos elétricos e prejudicando mais e mais moradores e contribuintes — os clientes da Light. Até a primeira quinzena de setembro, a concessionária registrou 277 ocorrências de furto de cabos.

Em maio, estatísticas da empresa já apontavam aumento de 164% em comparação ao mesmo período do ano passado: foram 12.845 metros de cabos furtados, que, esticados, chegariam praticamente de um extremo a outro da Ponte Rio-Niterói. Em 2023, os registros apontaram 373 furtos, totalizando mais de 16 mil metros, o suficiente para dar quatro voltas na orla de Copacabana. O aumento em relação a 2022 foi de 160%. Mas, por trás dos números, está o pior prejuízo dessa história: as milhares de famílias que sofreram e sofrem com interrupções do fornecimento de energia causadas única e exclusivamente pelo vandalismo.

A Light tem investido alto na tentativa de coibir esse tipo de ação criminosa.— Fazemos a troca de cabos de cobre por equivalentes de alumínio, material de valor bem menor no mercado, assim como as tampas de ferro fundido são trocadas por tampas de concreto ou fibra, com sistemas antifurto — diz o gerente de Operação e Manutenção da Rede Subterrânea da companhia, Leonardo Bersot.

Os prejuízos financeiros são vultosos: no ano passado, foram gastos R$ 4 milhões na recomposição da rede por conta dos furtos; neste ano, o montante já chega a R$ 6 milhões, na reposição de 35 mil metros de cabos furtados até o final de setembro. Mas nada se compara aos efeitos danosos na qualidade do serviço prestado aos clientes.

— A interrupção de fornecimento de energia por conta de furto de cabos pode gerar reparos e trocas que demandem até duas horas e meia de trabalho da Light — ressalta Bersot.

No ranking dos locais com maior incidência de furtos neste ano, o Centro figurando desonroso primeiro lugar, com 66 o c o r r ê n c i a s ; s e g u i d o por Copacabana (58) e Leblon (53). De janeiro a setembro, também ocorreram furtos de cabos em Ipanema, Tijuca, Barra da Tijuca, Laranjeiras, Campo Grande e Flamengo.

Outras ações da Light para combater os furtos são a instalação de proteção mecânica (tubulação de aço galvanizado e concretagem) no ponto baixo do poste em que a rede subterrânea está ligada e a contratação de rondas especiais e específicas de equipes da Polícia Militar, por meio do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis), nas principais áreas de reincidência desses crimes. Mas nada tem sido mais eficiente do que as denúncias feitas por cidadãos ao 190 da PM ou pelo call center da própria Light (0800 0210196).

Esse tipo de crime inicialmente era praticado por pessoas em situação de vulnerabilidade social, mas o aumento do preço do cobre no mercado mudou esse cenário.

— Hoje existem quadrilhas que se especializaram no furto de cabos. Elas chegam ao requinte de invadir a rede, retirar três linhas de cabos e deixar uma quarta linha paralela intacta, para que ela absorva a carga e não falte energia imediatamente na localidade. Mas um cabo sozinho não suporta a sobrecarga por muito tempo, e a interrupção da energia ocorre do mesmo jeito — acrescenta.

Por isso , é importante que quem testemunhar pessoas acessando a entrada das redes sem uniforme da concessionária, por exemplo, ou tiver informações sobre algum tipo de furto em rede elétrica não hesite em denunciar. O corte de energia pode deixar escolas sem aulas e ruas sem iluminação, além de causar acidentes graves, por apagar os sinais de trânsito, e até mortes em hospitais. Denunciar furto de cabos elétricos, tenha certeza, não é jogar energia fora.

ROUBO JÁ PARALISOU A CIRCULAÇÃO DO METRÔ EM 16 ESTAÇÕES

O aumento do valor do cobre no mercado, impulsionado pela sua utilização como insumo fundamental no processo de mobilidade elétrica — veículos elétricos podem usar até 70 quilos do metal — tem sido um dos motivos do crescimento desse tipo de crime.

A cada três horas e meia, um furto de equipamento de concessionária de serviço público ou de empresa de telefonia é registrado no Estado do Rio. E não são apenas a Light e seus clientes que sofrem.

Em maio deste ano, 12 homens armados invadiram a subestação de energia do metrô em Colégio, na Zona Norte do Rio, zeram funcionários reféns e levaram cerca de 160 metros de cabos. Resultado: na manhã seguinte os usuários encontraram o sistema de trens paralisado em 16 estações da Linha 2, da Pavuna à Cidade Nova. A suspensão das viagens entre 5h e 6h20 afetou cerca de 30 mil pessoas a caminho do trabalho ou de outros compromissos.

Como se vê, o problema dos furtos é bem maior do que a simples perda dos materiais. Na mesma manhã de maio, outro roubo foi interceptado por policiais na Avenida Augusto Severo, na Glória, onde criminosos tentavam furtar, com machado e diversos equipamentos, 300 quilos de cabos de cobre da Light. Reportagem do GLOBO já mostrou como esses metais roubados acabam entrando na cadeia legal da reciclagem e chegando a siderúrgicas.

Leis estaduais já proíbem ferros-velhos de receber, armazenar e vender os de cobre de origem desconhecida. A legislação determina o controle de compradores e vendedores, por meio da emissão de nota fiscal, e cabe à Delegacia de Roubos e Furtos cadastrar os estabelecimentos. Na capital, a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) também age na localização, apreendendo os de cobre em visitas a ferros-velhos.

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