05/08/2024 – BNamericas
O setor de transporte ferroviário de passageiros do Brasil terá de passar por uma reformulação devido à queda no número de passageiros. Antes da pandemia, eram registrados 11 milhões de passageiros por dia, enquanto hoje o número não passa de 8,3 milhões.
“No início da pandemia, pensávamos que o setor iria recuperar sua demanda total de passageiros dentro de um ano, mas isso nunca se concretizou, e é difícil prever quando essa recuperação vai realmente acontecer, porque o cenário mudou”, disse à BNamericas Joubert Flores, presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).
“Agora temos empresas que adotaram a semana de trabalho de quatro dias, temos trabalho remoto, trabalho híbrido, educação a distância, e-commerce. Ou seja, temos um cenário que nos obriga a pensar em formas de atrair novos passageiros para o sistema e, ao mesmo tempo, desencorajar o transporte individual”, acrescentou.
Flores recomendou que os estados subsidiem as tarifas do transporte urbano mesmo quando há baixa procura de passageiros, porque, segundo ele, trata-se, acima de tudo, de um trabalho social. “Durante a pandemia, percebemos que o que ajudou a deslocar trabalhadores de vários serviços de urgência foi a continuidade do sistema de transporte público”, lembrou Flores.
Os projetos e concessões de transporte estão avançando, principalmente no estado de São Paulo, apesar da queda no número de passageiros.
“Novos projetos no Brasil são importantes porque, com isso, estamos atacando parte do problema, que é atrair novos passageiros, de regiões antes não atendidas pelo sistema”, avaliou Flores.
Ele destacou, ainda, que melhorias contratuais tendem a atrair empresas do setor privado.
“Nos contratos antigos do setor no Brasil, todo risco de demanda era da operadora. Agora não temos mais esse problema. Os novos contratos atualmente têm um risco compartilhado: se a demanda cair muito, o estado assume parte dessa tarefa. No entanto, nas linhas em que o nível de passageiros é muito superior ao inicialmente previsto, a operadora devolve parte dos ganhos ao governo, criando um modelo economicamente sustentável”, explicou Flores.
“Esse é o modelo que tende a ser viável no Brasil, porque, diferentemente de outros países do mundo, os governos dos estados brasileiros, devido aos persistentes desafios fiscais, precisam de ajuda do setor privado para avançar com projetos no segmento”, completou.