País tem dois planos mais avançados no Sudeste; implantação de rotas é tema de debates entre associação e ministério

O país tem uma série de planos para a implantação de trens turísticos, mas alguns deles não saem das planilhas há muitos anos. Dois, porém, efetivamente estão mais avançados e podem resultar na criação de rotas interestaduais até o ano que vem.

Ambos envolvem três estados da região Sudeste: Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Um deles está em andamento a partir de Cruzeiro (a 219 km de São Paulo), enquanto o outro envolve oito cidades de Minas e Rio.

Na cidade paulista, a previsão é que os trilhos no trecho até o Túnel da Mantiqueira, na divisa com Minas, voltem a receber um trem turístico.

Para o trabalho de reconstrução foi necessário desenterrar 300 m de trilhos da linha principal da ferrovia, na área urbana de Cruzeiro. No passado, a prefeitura aterrou o local para fazer um estacionamento.

Quatro quilômetros de trilhos já foram recriados na cidade e a projeção é chegar a seis quilômetros até o fim do ano, segundo Bruno Crivelari Sanches, presidente da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).

Se o cronograma for cumprido, os trilhos estarão prontos para uso até a estação Rufino de Almeida, num trecho plano e tido como o mais bonito do roteiro da Estrada de Ferro Minas e Rio.

Serão 25 quilômetros até a chegada ao túnel de 998 metros de extensão e que foi palco de batalha na Revolução Constitucionalista de 1932.

Para isso, Sanches disse que a intenção é iniciar o trecho de subida da Serra da Mantiqueira, rumo ao túnel, já no ano que vem.

O outro também passa por Minas Gerais, mas tem como um dos destinos o Rio de Janeiro. Batizado de trem Rio-Minas, ele deve ter um trecho em operação no primeiro semestre do ano que vem, sete anos após sua idealização.

A rota toda prevê 168 quilômetros de trilhos, passando por oito municípios —Sapucaia e Três Rios, no Rio de Janeiro, e Cataguases, Além Paraíba, Volta Grande, Recreio, Leopoldina e Chiador, em Minas.

Inicialmente, porém, deve passar por três localidades, duas do Rio e uma de Minas, numa rota de 37 quilômetros.

“São duas rotas que estão mais próximas de entrarem em operação. No caso do Rio-Minas, mesmo o primeiro trecho já é bastante grande. A intenção é pegar a experiência desses trens novos e tentar disseminar esse modal”, afirmou Roberta Marchesi, diretora-executiva da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos).

A associação tem participado de discussões sobre o tema com o Ministério do Turismo, com o objetivo de viabilizar a criação de mais rotas turísticas no país.

“Hoje já temos 27 trens turísticos no Brasil, alguns permanentes, outros esporádicos, comemorativos, com operação limitada. A intenção é que a gente possa avaliar trechos ferroviários desativados ou que serão, no futuro, obsoletos”, disse.

A maior parte dos trens turísticos está concentrada em cinco estados —São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul— e integra a Abottc (Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais).

Entre eles estão o Trem das Águas (MG), o Trem da Serra do Mar Paranaense, o Trem do Corcovado (RJ), o Trem do Vinho (RS), o Trem de Guararema (SP) e o Trem Republicano (SP).

Em reunião entre ministério e associação em julho, foram discutidas a necessidade de encontros com associações, gestores municipais e estaduais, autarquias, operadores e universidades para mobilizar e identificar possibilidades de parcerias.

Segundo o ministério, ficou acordado que a pasta fará uma minuta de acordo de cooperação com a ANPTrilhos que prevê treinamentos para viabilizar o modal e articulação com organismos nacionais e internacionais para estruturar as propostas.

“O trem turístico está entrando muito forte na pauta política, assim como o trem de passageiros. Não é novidade que o Brasil perdeu essa cultura ferroviária de passageiros há muitos anos. Hoje temos um conhecimento muito específico nas regiões e cidades que têm algum tipo de transporte, mas o restante do Brasil desconhece. As próprias universidades não têm cadeiras específicas sobre o transporte de passageiros”, disse a diretora-executiva.

De acordo com a associação, além de desenvolver o transporte ferroviário urbano nas 25 regiões metropolitanas com mais de um milhão de habitantes, o objetivo futuro é buscar conexões entre as capitais.

“É importante que em alguns trechos paremos de depender do transporte rodoviário majoritariamente e que tenha opção de fato. Um exemplo é conectar Brasília a Goiânia, um trecho pequeno, próximo, que depende da rodovia ou aéreo.”

20/08/2022 – Folha S. Paulo / Blog Sobre Trilhos