SÃO PAULO – A Copa do Mundo deste ano e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, deixaram uma herança de projetos de trens metropolitanos no Brasil. Os 25 projetos que nasceram dura…

A Copa do Mundo deste ano e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, deixaram uma herança de projetos de trens metropolitanos no Brasil. Os 25 projetos que nasceram durante o planejamento para os dois megaeventos correspondem a cerca de 30% da rede existente hoje. Apesar de que vários não ficarão prontos em tempo para as competições, o saldo de infraestrutura já representaria avanço frente à alta da demanda.

No diagnóstico do presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores, a última década foi representativa para o segmento porque “o projeto ferroviário voltou para a pauta”, quer dizer, está novamente em discussão. Com a ascensão do setor automotivo e do modal de transporte rodoviário nas décadas anteriores, os trens e ferrovias haviam sido deixados de lado.

“Quando se trouxe a indústria automotiva, concentrou-se todo o transporte sobre pneu. Mas hoje isso está se invertendo”, afirmou o porta-voz. Para ele o sucesso da mobilidade está relacionado à integração entre os modais, não na concorrência entre eles.

A demanda do segmento de transporte de passageiros sobre trilhos, por outro lado, ainda cresce bem mais rápido do que a oferta de assentos.

Segundo dados da ANPTrilhos, a procura pelo transporte ferroviário urbano expande 11% ao ano, enquanto a capacidade do sistema cresce apenas 3%. “O poder público sabe que este é o momento de investir, mas mesmo assim o crescimento da infraestrutura não é compatível com o da demanda”, diz Flores.

O baixo ritmo de expansão também não pode ser explicado pelo tamanho do segmento no Brasil, bem menor que o de outros países. Enquanto em todo território nacional se transporta 9,1 milhões de passageiros sobre trilhos por dia, apenas o metrô de Shangai movimenta 7 milhões.

Em termos de extensão das linhas, o Brasil também fica para trás. O País possui quase mil quilômetros de trilhos e 501 estações. No Reino Unido, são 32 mil quilômetros (km) de linhas e 2,5 mil estações. Flores ainda ressaltou que parte da malha ferroviária brasileira foi perdida ao longo do tempo. No Rio de Janeiro, por exemplo, eram 400 km de trilhos para a operação dos bondes.

Com os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo, cerca de 25 projetos devem começar a expandir a malha para trens urbanos no Brasil. Além desses, há outros 20 previstos com potencial para a criação de empregos por volta de 2020. Entre eles estão os metrôs de Curitiba e Porto Alegre.

Reino Unido

Apesar de a Inglaterra ter sido o país precursor no uso de ferrovias, a infraestrutura lá segue em desenvolvimento. Em apresentação no Connected Cities Summit, promovido pelo governo Britânico na capital paulista, o especialista em projetos ferroviários Jake Rudham afirmou que a expectativa é dobrar o transporte de passageiros nos próximos 30 anos. Para isso, o Reino Unido deve investir 14 bilhões de libras entre 2014 e 2019.

Um dos projetos em andamento no país é o Crossrail, que ligará as regiões oeste e leste de Londres por meio de uma linha com mais de 100 km. Iniciada em maio de 2009, a obra é considerada a maior em andamento em toda a Europa. O investimento é avaliado em 14,8 bilhões de libras e a previsão é que a linha esteja completamente operacional no final de 2019.

Para Flores, a maior lição a ser aprendida com o modelo britânico é o planejamento. “Precisamos desenvolver essa cultura de projeto”, afirmou. Questionado a respeito do modelo de financiamento dos projetos ferroviários, Rudham indicou que no Reino Unido a totalidade do investimento é de responsabilidade do governo. Não há parcerias públicos-privadas, modelo usado no Brasil. Lá a iniciativa privada é envolvida apenas no âmbito operacional do sistema – não nos investimentos de infraestrutura.