por Roberta Marchesi*
A pandemia causada pelo coronavírus está impactando fortemente a saúde, a economia, a educação, a produção industrial, os serviços, as cidades, enfim, a vida como um todo, e novos hábitos estão sendo incorporados ao cotidiano das pessoas, como trabalhar e estudar de casa, saindo somente para atividades essenciais.
As cidades estão vivenciando um momento raro, num cenário com menor quantidade de pessoas e veículos nas ruas. Difícil de imaginar, mas, diante da pandemia do Covid-19, grandes capitais como São Paulo e Porto Alegre tiveram reduções significativas no trânsito, no período de medidas restritivas de circulação adotados pelos governos locais. A capital paulista ficou 15 dias sem registro de congestionamentos, enquanto a capital gaúcha apresentou queda de 64% no número de veículos em circulação.
O fato de muitas pessoas estarem em casa levou também à redução drástica dos acidentes de trânsito. A cidade de Porto Alegre, por exemplo, registrou uma queda de 80% no número de acidentes envolvendo veículos automotores durante o mês de março, segundo dados da prefeitura; enquanto em São Paulo, o número de mortes por essa ocorrência caiu 31,3% na última semana de março.
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), que abordou o impacto na melhoria da qualidade do ar em cidades que adotaram medidas de restrição de circulação durante a pandemia, mostrou que a redução na utilização de veículos automotores levou à uma queda de 20% nas emissões de monóxido de carbono (CO) e de 4% de material particulado fino (poeira em suspensão) em São Paulo.
A redução dos índices de poluição atmosférica reflete de forma positiva sobre a saúde pública, pois quanto menor o número de internações por acidentes e problemas respiratórios, menor a ocupação dos leitos hospitalares e maior a disponibilidade para atendimento às vítimas da Covid-19.
A Pandemia certamente nos trará enormes desafios, além daqueles que por ora já enfrentamos, mas também nos mostrará o caminho para novas soluções. É fundamental unir esforços para tornar o deslocamento das pessoas mais seguro e descomplicado, ao mesmo tempo em que contribua para uma maior sustentabilidade e qualidade de vida em nossas cidades.
* Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento, Gestão e Logística.
Artigo publicado no Jornal Zero Hora, no dia 09 de junho, e no jornal O Tempo, no dia 16 de junho.