Jean Carlos Pejo: conhecimento a serviço da engenharia sobre trilhos

No próximo dia 9/12, comemorando o Dia do Engenheiro (oficialmente 11/12), o SEESP realiza solenidade do já tradicional Prêmio Personalidade da Tecnologia 2019. O assessor especial do Ministério do Desenvolvimento Regional na área de Mobilidade Urbana/Serviços Urbanos e Saneamento, Jean Carlos Pejo, será o homenageado na categoria “Intermodalidade e Ferrovia”.

Engenheiro mecânico, Pejo é especialista em ferrovias de passageiros e cargas, com cursos de especialização no Japão, França, Reino Unido e Estados Unidos. Atuante no setor, ele é secretário-geral da Associação Latino-Americana de Ferrovias (ALAF/Brasil), e membro do Instituto de Engenharia de São Paulo, onde coordenou projeto de ocupação sustentável do território nacional por ferrovias associadas ao agronegócio, um trabalho que ele atesta ter “orgulho de participar”.

Em entrevista à Comunicação SEESP, ele pauta o cenário metroferroviário do País e obras que estão em andamento, reforçando o papel da engenharia. “Tendo engenharia, não tenha dúvidas, nós vamos ter mais rapidez nas obras, melhor qualidade”, ele defende. O especialista também recorda importantes empreendimentos em que participou, como a ponte rodoferroviária que liga as cidades de Rubinéia (SP) e Aparecida do Taboado (MS), inaugurada em 1998. E comemora a premiação: “Fico bastante honrado de ter sido reconhecido pelo trabalho que a gente vem desempenhando a longos anos para o setor”.

A retomada das ferrovias é uma bandeira do SEESP e sabe-se que para o País é positivo que se invista no modal. Qual é a visão do senhor sobre o cenário do setor hoje?

Temos a situação das concessões que buscam renovações, uma etapa de desenvolvimento do setor ferroviário de carga que vai mover uma grande soma de investimentos para a ferrovia existente, que oscila em seus R$ 20 bilhões de reais. São as atuais concessões, que iniciaram desde 1996, com a primeira concessão da ferroviária nova-oeste, até 1999, com a malha paulista, antiga Fepasa. Outra situação são as novas ferrovias em desenvolvimento, como a Ferrogrão, já em fase de audiências públicas; a Integração Oeste-Leste Bahia, uma obra pública, que deve estar já com a primeira fase para concluir. Existem ainda outros projetos como a ferrovia paraense; a de Santa Catarina, chamada ferrovia do frango; a conexão do sistema da Norte-Sul, na região de Campinorte (Goiás) até Lucas do Rio Verde, uma região do Mato Grosso muito forte na produção de soja; e também a conexão Rio-Vitória, que vai ligar esses dois importantes estados e portos que atuam na região, como o porto do Açu. Enfim, têm vários programas em andamento no ambiente ferroviário de cargas que são importantes para o desenvolvimento do País.

E quanto ao transporte de passageiros?

Tem bastante coisa em progresso, como a questão da Linha 6 – Laranja do Metrô de São Paulo, que depois de muitos anos com as obras paradas, teve recentemente parecer favorável de uma empresa espanhola que deverá reassumir as obras e a operação; a conclusão da Linha 15 – Prata [CPTM], uma linha de monotrilho, que já se encontra em operação privada; a retomada da Linha 2 – Verde do Metrô, que é um grande anseio da sociedade; e temos a Linha 17 – Ouro se destravando também. No nível nacional, está se discutindo a questão da PPP [Parceria Público-Privada] para a Linha 3 do metrô do Rio de Janeiro, que fará a conexão Niterói-São Gonçalo. Outro empreendimento ferroviário importante e que, para mim, tem um efeito especial, porque participei diretamente destravando os impedimentos que não permitiam a continuidade da obra, é o início do uso do shield, o famoso tatuzão, já agora em novembro para abrir o túnel do metrô de Fortaleza (CE), linha leste. Além dessas obras, tem os vários sistemas de VLT [Veículo Leve sobre Trilhos] que estão se discutindo, alguns em execução como o de Santos, e a entrega da Linha 3 do VLT do Rio de Janeiro, que consolida a implantação do sistema na região.

Como o senhor classifica o setor hoje?

Ele tem muito a crescer, ele caminha em passos mais lentos do que nós gostaríamos que ele caminhasse. O tempo de construção de um metrô em São Paulo ou qualquer outro estado do Brasil é devagar. Não é possível compara com a China, por exemplo, porque lá é uma condição especial. Mas para se ter uma ideia, o metrô de Pequim foi construído em menos de 10 anos um total de 500 quilômetros, ou seja, 50 quilômetros por ano. A nossa rede de metrô em São Paulo, com as expansões que tivemos recentemente, chega a 100 quilômetros, funcionando desde 1973. Porém lá é uma condição especial como eu disse. Mesmo assim, se comparado aos empreendimentos realizados aqui na América do Sul como no Chile, Colômbia, o tempo de construção desses foi muito mais rápido do que tem sido os nossos. Então temos muito que fazer. O importante é que não se paralisem obras, que se dê continuidade as obras existentes, concluindo-as, para podermos pensar em novas expansões que o Brasil tanto precisa, especialmente na cidade de São Paulo.

Considerando este cenário, qual é o papel da engenharia?

A engenharia é de total importância. Toda vez que eu tenho oportunidade de falar em entrevistas, congressos ou em aulas, eu digo que quanto mais engenharia nós tivermos, menos judicialização, menos problemas ocorrerá. Atrasos em projetos acontecem por falta de engenharia. Tendo engenharia, não tenha dúvidas, nós vamos ter mais rapidez nas obras, melhor qualidade, e vai se pagar menos. E pagando menos nós temos condições de fazer mais. Então engenharia é fundamental, o papel do engenheiro é fundamental. Eu quero crer que na década que se inicia no ano que vem será a década do engenheiro.

O senhor atuou em importantes projetos do setor. Um exemplo é o desenvolvido pelo Instituto de Engenharia de São Paulo, de ocupação sustentável do território nacional por ferrovias associadas ao agronegócio. O que significa para o senhor?

É um trabalho que tive orgulho de participar. Se olharmos para o passado do nosso País, o desenvolvimento dos estados se deu por causa da ferrovia ligada ao agronegócio. O início no século 20 foi o início da grande produção de café e, por consequência, da construção das ferrovias. São Paulo é um grande exemplo, o desenvolvimento do estado foi feito em consonância com o crescimento da ferrovia. E o que estamos desenvolvendo nesse programa da ocupação do território é a mesma coisa, nas regiões Norte e Nordeste, para o Brasil do século 21. Hoje o agronegócio é diferente, com tecnologia, controlado por meio de importantes softwares, equipamentos sofisticados. Então o desenvolvimento ferroviário tem que estar no eixo das cidades inteligentes, na forma das cidades que vão atender a necessidade do agronegócio do século 21. Esse foi o nosso trabalho no Instituo de Engenharia, com exatamente esse foco.

Outro projeto notório foi o da ponte rodoferroviária Rubinéia (SP) /Aparecida do Taboado (MS), um exemplo de intermodalidade.

É outro empreendimento que me orgulho de ter participado principalmente pelo resultado que trouxe para o País. Era a realização de um sonho do então senador Vicente Vuolo, que vislumbrava a conexão de Mato Grosso ao porto de Santos, construindo a ponte rodoferroviária, que na época era a maior ponte rodoferroviária da América Latina. Também participei do programa de duplicação e ligação do sistema Mairinque/ Santos, que foi o que permitiu o transporte de 35 milhões de toneladas de produtos agrícolas por ano, fazendo com que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul se tornassem potências agrícolas. Esses empreendimentos tiveram e tem participação direta no desenvolvimento do Brasil. E eu tive a honra de ter participado, de ter sido um grão de areia naquele oceano, que resultou na condição que nós temos hoje, de termos uma das melhores agriculturas do mundo.

E quais são os projetos atuais com perspectiva de melhorias no setor?

Este ano, com a Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, atuamos para trazer condições para que os trilhos cheguem às cidades por meio do Programa Avança Cidades. Nós estruturamos a possibilidade do financiamento de estudos de projetos de engenharia completos, com custeios que até então só eram aprovados para a realização de obras. Dentro do mesmo programa, criamos a possibilidade do incentivo de empreendimentos de trilhos, com o objetivo de levar VLTs, metrôs, monotrilhos e sistemas metropolitanos para as cidades, com condições especiais, permitindo que as prefeituras e estados possam oferecer um serviço de qualidade à sociedade. Também foi criado subsídio para trens novos, modernização e recuperação de trens, que são condições essenciais para melhorar a qualidade de vida e a movimentação das pessoas nas regiões urbanas. Aliado a isso e como consequência dessas ações, estamos criando condições para que a indústria ferroviária brasileira não abandone o País, visto que nos últimos dois anos nós temos praticamente produção zero, as empresas estão se mantendo a duras penas aqui no Brasil. Então essa é uma oportunidade de investir na produção com indústria nacional, com engenheiro nacional, gerando empregos.

O senhor foi nomeado para Personalidade da Tecnologia 2019, na categoria “Intermodalidade e Ferrovia”. Como o senhor vê esta homenagem?

É uma satisfação enorme falar sobre metrôs, falar sobre ferrovias. Eu fico honrado e muito feliz, com o coração alegre de ter sido indicado a receber um premio tão honroso quanto esse do Sindicato dos engenheiros do Estado de São Paulo. É um setor que está caminhando, e depende da gente. Depende de mim, depende do sindicato, dos nossos colegas das universidades. Fico bastante honrado de ter sido reconhecido pelo trabalho que a gente vem desempenhando a longos anos para o setor metroferroviário.

19/11/2019 – SEESP