Exemplos de Salvador e São Paulo mostram importância de PPPs para alavancar transporte público

Parcerias com setor privado geraram sistemas com alta tecnologia e permitiram investimentos para melhoria do serviço

Nem sempre é necessário olhar para fora do país para encontrar exemplos de excelência em transporte público. Parcerias bem-sucedidas entre os setores público e privado têm ajudado a construir e gerir estruturas de alta qualidade no Brasil.

Sistemas eficientes, que operam com alta tecnologia e transportam grande quantidade de passageiros todos os dias, nasceram de “casamentos” recentes entre governos e empresas. São formas de driblar as dificuldades financeiras dos estados e entregar à população um serviço essencial.

“A adoção deste modelo foi algo muito positivo para os sistemas. Permitiu que se contasse com a maior eficácia do setor privado”, destaca Joubert Flores, presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).

Pioneira nesse tipo de parceria, a linha 4-amarela do metrô de São Paulo, administrada pela concessionária ViaQuatro, abriu caminho para outros modelos semelhantes. A estimativa é de que, ao longo dos 30 anos de operação, a empresa investirá US$ 2 bilhões em melhorias no sistema, como aquisição de trens e sistema de sinalização. Deste montante, já foram desembolsados US$ 450 milhões.

O modelo é o de uma Parceria Público-Privada (PPP) parcial. Nesse formato, cabe ao Estado fornecer a infraestrutura, como trilhos e estações, enquanto o ente privado fica responsável por gerir o sistema, assumindo a tarefa de adquirir a frota e os equipamentos necessários para a operação. Os resultados são animadores.

A linha 4 transporta, em média, mais de 850 mil passageiros em um dia útil – a expectativa é de que o número chegue a 1 milhão quando todas as estações forem concluídas -, e a taxa de satisfação é alta. Mais de 90% dos usuários consideram os serviços “muito bons” ou “bons”, segundo pesquisas realizadas semestralmente pelo Instituto Datafolha desde 2011.

Basta embarcar em um trem para entender o motivo da satisfação. Inovações como o sistema sem condutor, o primeiro a ser implementado na América Latina, dão mais agilidade à viagem. Os veículos são operados pelo Controle de Trens Baseado em Comunicação (CBTC, na sigla em inglês). Assim, a velocidade de cada composição é monitorada, permitindo reduzir, com segurança, a distância entre um trem e outro até 12 metros (similar ao comprimento de um ônibus). Com isso, o tempo de espera para os passageiros também diminui.

O processo de embarque e desembarque ganha segurança e velocidade com as divisórias de vidro que separam a plataforma dos trilhos. As portas da plataforma e do trem se abrem simultaneamente, o que reduz acidentes, diminui a queda de objetos na via e evita as interrupções de viagens por conta desses incidentes. Os passageiros também recebem informações valiosas, como as mostradas em painéis que identificam a lotação de cada vagão do trem, possibilitando que escolham o setor da composição que permite uma viagem mais confortável.

No treinamento para quem opera o sistema, há uma inovação. Pioneiro no mundo, um simulador é utilizado para desenvolver novos condutores. Na ferramenta, são desafiados por avaliadores em diversos cenários para que saibam como responder a eventuais dificuldades. O sistema funciona em uma réplica do primeiro carro do trem, que tem um console para operação manual e uma tela que reproduz virtualmente a via, o túnel e as estações.

Não foi à toa que o modelo da ViaQuatro se espalhou por outras partes do país. Em Salvador, o metrô foi viabilizado por uma PPP integral. Neste caso, a CCR Metrô Bahia, concessionária do sistema, não se limita a gerir e operar. Também é responsável por construir toda a infraestrutura.

Assim como em São Paulo, a parceria tem funcionado. Mesmo em meio a um momento econômico difícil no Brasil, foram implantados 14,4 quilômetros de percurso do metrô e oito novas estações somente em 2017. Mais uma amostra de que há um caminho possível para solucionar o déficit de transporte público no Brasil, e ele passa pela participação da iniciativa privada.

05/11/2018 – G1