Obra em Salvador teve preocupação com a manutenção do meio ambiente e bem-estar

Unir o desenvolvimento urbano com a qualidade de vida da população é um dos desafios das grandes cidades. Não há dúvidas de que as obras de infraestrutura são necessárias, mas deixar a natureza de lado pode trazer sérias consequências à população.

Ao se projetar uma grande obra de mobilidade urbana é preciso pensar em como equilibrar essa necessidade com a qualidade de vida das pessoas. Esse foi um dos principais focos no desenvolvimento do Metrô de Salvador, capital da Bahia, a partir de 2012, quando as obras iniciadas em 2000 foram retomadas sob responsabilidade da Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB). Hoje com 33km em funcionamento e mais 9km para serem concluídos, seu projeto arquitetônico e urbanístico é um exemplo, citado em importantes premiações internacionais.

Nem sempre foi assim. O primeiro projeto, que teria 12km, recebeu muitas críticas justamente por ter muito concreto e pouca integração com a cidade, além de se arrastar por mais de uma década sem ser concluído. Ao assumir a construção, a CTB teve o desafio de, junto com a concessionária CCR Metrô Bahia, criar uma proposta com a qual os soteropolitanos se orgulhassem. “Nossa equipe teve que fazer um projeto que fosse ao mesmo tempo de transporte, mas também de integração, de conceitos ambientais, de futuro, de bem-estar”, explica o presidente da CTB, Eduardo Copello.

Corredor verde e transporte alternativo

Uma recente pesquisa da Universidade Parthenope de Nápoles, na Itália, aponta que o plantio de 20% mais árvores em grandes cidades pode dobrar os benefícios ao meio ambiente e aos habitantes. Na nova linha elevada da Avenida Paralela de Salvador, a recuperação da vegetação do local foi uma das grandes preocupações. Foram plantadas 400 árvores como compensação ambiental, o dobro do exigido no contrato. E os demais números impressionam.

A nova linha elevada passa pelo canteiro central da Avenida Paralela, uma grande área verde de 12,2km de extensão e aproximadamente 60 metros de largura. Para não perder vegetação, o projeto paisagístico previu o replantio de árvores, revitalização dos lagos, além de instalação de ciclovia e pista de caminhada. “O paisagismo da Avenida Paralela contemplou o plantio de cerca de 5 mil árvores no canteiro central e no entorno da avenida”, explica Luís Valença, diretor-presidente da CCR Metrô Bahia. Isso representa um volume três vezes maior do que existia e é somado ainda a 200 mil arbustos e à recuperação das lagoas artificiais do Imbuí e de Flamboyant.

Modais alternativos e lazer valorizados

O bem-estar da população, já cansada de tanto concreto, também era uma preocupação. Nesse sentido, o projeto incluiu uma ciclovia e uma pista de caminhada que percorrem toda a extensão da Avenida Paralela. Além de serem espaços esportivos, eles agregam aos equipamentos já existentes na cidade, o que incentiva o transporte alternativo.

Para garantir que os ciclistas tenham como fazer a conexão com o transporte coletivo, cada estação ganhou um bicicletário gratuito. “A população tem nesses equipamentos esportivos mais opções para a combinação da prática de exercícios físicos ao ar livre, como ciclismo e corrida de rua, com o bem-estar e um estilo de vida mais saudável nas grandes cidades”, comenta Valença.

Integração com a cidade

Antes, as obras de infraestrutura de transportes geralmente não eram acompanhadas de uma preocupação com o meio ambiente. Essa realidade mudou e mesmo pequenos trechos precisam obedecer rígidas legislações e fazer a compensação ambiental, lembra Joubert Flores, presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).

Para ele, as obras hoje têm a função de revitalizar as cidades e cita, além do metrô de Salvador, o VLT do Rio de Janeiro. “No Rio, o VLT Carioca revitalizou o Centro da cidade. O trecho final da Avenida Rio Branco, que era cheio de ônibus, virou um boulevard bonito”, exemplifica.

O arquiteto e urbanista Lourenço Mueller destaca ainda que as infraestruturas de transportes sobre trilhos levam melhorias para o ambiente da cidade. Esses modais geram aumento do conforto para os cidadãos e áreas verdes podem ser repostas. “De uma forma inteligente, científica, recriando ambientes naturais atraentes e redutores de CO2”, argumenta.

O arquiteto afirma que metrôs e VLTs transformam completamente a cidade, com a valorização de áreas adjacentes e mudança na correlação de valores fundiários e imobiliários. Já para a população a mudança de hábitos reconfigura o cotidiano, especialmente do usuário de baixa renda, por melhorar sua qualidade de vida.

10/08/2018 – G1

 

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