Projeto inclui linhas férreas de cinco cidades; recurso viria de multa aplicada pela ANTT à empresa que desistiu de administrar 752 quilômetros da antiga Rede Ferroviária
O governo do estado tem um projeto para colocar os turistas que visitam o Rio nos trilhos. A ideia é reativar corredores ferroviários, uma malha de 70 quilômetros, nas cidades de Miguel Pereira, Petrópolis, Valença (Conservatória), Paraíba do Sul e Magé, que seriam mais uma atração no interior. Os recursos viriam de uma multa aplicada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) à Ferrovia Centro-Atlântica S.A (FCA).
Desde 2014, o governador Luiz Fernando Pezão vem discutindo a liberação da verba com o Ministério de Transportes, Portos e Aviação Civil. Segundo o secretário estadual de Transportes, Rodrigo Goulart de Oliveira Vieira, a ideia é que o Rio fique com R$ 200 milhões — 20% do total da multa.
Rio deve reativar corredor ferroviário para trens turísticos
— Já foram feitas inúmeras reuniões técnicas para discutir a questão. Queremos, com a reativação desses trechos, um resgate histórico de um estado pioneiro em ferrovias no país. É um projeto de extrema necessidade. Não só pela recuperação patrimonial, mas pela história dessas linhas. Queremos uma alternativa negociada com o governo federal. Não imaginamos outros passos — afirmou o secretário de Transportes.
Em 2013, a FCA foi multada por devolver ao governo federal cerca de 752 quilômetros de linhas férreas que administrava, alegando que esses trechos eram deficitários. A empresa assumiu, em 1996, a concessão para controlar 7.220 quilômetros da Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA), espalhados por 316 municípios em sete estados brasileiros, incluindo o Rio.
PONTE METÁLICA DE 1987
Em Miguel Pereira, cidade no Centro-Sul Fluminense com cerca de 30 mil habitantes, o estado quer recuperar 29,4 quilômetros da antiga linha auxiliar da Estrada de Ferro Leopoldina. O projeto inclui a reativação do trecho sobre o viaduto Paulo de Frontin, construção inaugurada em março de 1897 e até hoje a única no mundo em curva. A estrutura metálica treliçada, de arquitetura belga, tem 82 metros de comprimento e está em boas condições. Mas boa parte dos trilhos foi furtada após a paralisação do circuito turístico em meados dos anos 1990. Nos últimos anos, a prefeitura da cidade conseguiu recuperar cerca de 4,5 quilômetros da linha.
Com os recursos da multa, o governo ainda pretende tirar do papel velhos sonhos, como a reforma da Estação Barão de Mauá, na Leopoldina, no Centro do Rio, que está abandonada. Para Delmo Manoel Pinho, subsecretário de Transportes, aplicar parte dos recursos da multa no estado é mais que justo:
— Com a reativação dessas linhas, teríamos um grande fomento do turismo nessas cidades.
O CHARME DE ANTIGAS LINHAS PODE SER RESGATADO:
Petrópolis:
Recuperação a linha entre os distritos de Nogueira e Itaipava. O projeto prevê a implantação da linha férrea embutida (tipo trilhos de bonde ou VLT) em um trecho de cerca de cinco quilômetros.
Paraíba do Sul:
A reativação do trem da Estrada Real no município de Paraíba do Sul. São 14,3 quilômetros entre o centro da cidade e distrito de Cavaru, que integra a linha auxiliar da Leopoldina.
Valença:
O trem turístico de Conservatória, no distrito de Valença, cruzaria três quilômetros da antiga linha Ferrovia Oeste de Minas. A prefeitura quer que o circuito seja percorrido por uma maria-fumaça.
Magé:
A ideia é retomar a linha do Expresso Imperial, trecho de sete quilômetros entre a localidade de Vila Inhomirim, em Magé, e o alto da Serra de Petrópolis. O trecho foi inaugurado em 1883 e desativado em 1964. A distância era vencida por locomotivas a vapor de tração a cremalheira (tipo de trilho dentado).