Metrópole dos sonhos está no Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU)

Se o alcance dos transportes de massa não satisfaz boa parte dos passageiros, há um Rio com uma linha de metrô que chega à Ilha do Fundão (saindo de Del Castilho) e a Niterói (partindo da Praça Quinze, por um túnel subaquático em plena Baía de Guanabara). Também é possível ir de trem de Nova Iguaçu a Duque de Caxias, e de BRT da Praça Arariboia a São Gonçalo. Mas, por enquanto, esse Grande Rio dos sonhos só existe no papel: está no Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU) de 2015, que traça previsões para a médio e longo prazo.

Em tons que soam utópicos diante de tanta ideia que perdeu fôlego, o documento indica o que especialistas e cálculos de demanda consideravam o sistema “ideal” para depois de 2021. A previsão era que se tornasse realidade em 2036.

A ampliação da infraestrutura recomendada custaria, em valores calculados na época, R$ 27,3 bilhões, sendo o maior aporte na construção da linha metroviária entre Niterói e São Gonçalo (a Linha 3), que demandaria, sozinha, R$ 4,4 bilhões.

O documento é anterior à crise, que minguou investimentos. Esperava-se, por exemplo, que o BRT Transbrasil, cujas obras estão paradas, estaria em funcionamento desde 2016.

‘Onde é preciso transportar muita gente, você coloca transportes sobre trilhos. Mas, aqui no Rio, há corredores de alta capacidade e várias linhas de ônibus competindo’
– Delmo Pinho, Subsecretário estadual de Transportes

O plano antevia ainda que o Rio teria seis novas linhas e duas extensões do metrô (a Linha 4 alcançaria o Terminal Alvorada, e a Linha 2 chegaria à Praça Quinze), assim como existiriam três novos trechos para trens, incluindo a ligação entre Nova Iguaçu e o bairro de São Bento, em Duque de Caxias.

O subsecretário estadual de Transportes, Delmo Pinho, ressalta que o relatório serve para nortear possíveis investimentos quando oportunidades surgirem. Mas reconhece obstáculos para concretizá-los:

— Um plano diretor tem uma enorme dificuldade, porque ele é de longo prazo. No Brasil, nos últimos anos, não se sabe nem como o ano vai fechar. Como arrumar dinheiro para fazer um investimento desses? — observa.

Joubert Flores, consultor de Engenharia do MetrôRio e presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), avalia que é preciso, em primeiro lugar, planejar melhor os fluxos da rede já existente:

— Onde é preciso transportar muita gente, você coloca transportes sobre trilhos. Mas, aqui no Rio, há corredores de alta capacidade e várias linhas de ônibus competindo com eles, fazendo o mesmo trajeto.

Para elaborar o plano diretor e apontar saídas para resolver o nó da mobilidade no Rio, a equipe técnica resgatou antigos projetos de circulação que nunca foram completamente implementados, tais como o Plano Doxiadis, de 1965, e o Plano Integrado de Transporte do Metrô, da década de 1970.

As recomendações do PDTU

Metrô cruza a Baía

As sugestões para a rede metroviária são ambiciosas: uma estação de metrô da Praça Quinze seria ligada à estação Arariboia, em Niterói, por um túnel subaquático. De lá, partiria a Linha 3, até Guaxindiba. Outro eixo metroviário seria criado para unir a Gávea ao Centro, passando por Jardim Botânico, Botafogo e Laranjeiras. Uma nova linha levaria passageiros da estação Uruguai, na Tijuca, à Gávea, passando por baixo do maciço da Tijuca. A Linha 4 chegaria ao Terminal Alvorada, de onde partiria a Linha 6, com destino à Ilha do Fundão, passando por Del Castilho.

Trem pela Baixada

O documento sugere a implantação de uma ligação por trilhos entre Nova Iguaçu e Duque de Caxias, com objetivo de estimular outros fluxos que vão além do eixo Baixada-Rio. Também faz parte dessa lógica a inauguração de um trecho entre Deodoro e Caxias.

BRT até Manilha

O único novo trajeto de BRT proposto, além do hoje paralisado Transbrasil, é a via que partiria do Terminal João Goulart, em Niterói, até Manilha, em São Gonçalo, pela RJ-104. Nesse caminho há apenas um corredor exclusivo para ônibus na Alameda São Boaventura.

30/07/2018 – O Globo