A Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô de São Paulo (Aeamesp) concluiu a 23ª Semana de Tecnologia Metroferroviária satisfeita com a riqueza dos debates e o engajamento de stakeholders vinculados ao Governo Federal. A maioria dos participantes do evento revelou euforia frente ao “sinal verde” das autarquias públicas para a antecipação das renovações de concessões do transporte de cargas.
Mesmo com um orçamento 60% menor em comparação ao do ano passado, a Aeamesp levou o fórum para um espaço mais amplo e de fácil acesso, na Universidade Paulista (Unip) Paraíso, próximo ao Metrô Vergueiro, em São Paulo. Embora o público total ainda não tenha sido divulgado, ficou claro para os organizadores que o evento de quatro dias (de 19 a 22 de setembro) recebeu um número maior de interessados em 2017.
Os painéis principais tiveram ocupação acima da expectativa – em alguns dias, houve lugares liberados em espaço restrito. As salas com temas mais específicos também foram bem prestigiadas. Já a Metroferr Lounge Experience, área para expositores, foi se esvaziando conforme os dias de evento se sucederam.
“Nós intensificamos as permutas e as ações colaborativas. E tivemos acréscimo de qualidade. A programação do evento contou inclusive com a exposição da Associação Latino Americana de Metrôs e Subterrâneos (ALAMYS), que muito nos honrou com o lançamento em nosso evento da sua política para o desenvolvimento do transporte sobre trilhos. Tivemos também representantes da comissão ferroviária da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Além do envolvimento da Frente Parlamentar em Prol do Transporte Metroferroviário (FTRAM) e de órgãos ligados aos governos“, frisou o presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô de São Paulo (Aeamesp), citando alguns dos parceiros estratégicos com os quais a entidade procura estreitar relações.
Logo na abertura do fórum, os vencedores dos melhores artigos técnicos inéditos deste ano foram homenageados pela Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPT) e pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
“O objetivo do Prêmio é incentivar e potencializar a produção tecnológica, o intercâmbio de experiências entre empresas e profissionais do setor“, declarou o diretor-executivo da ANPTrilhos, João Gouveia.
Os painéis com conferencistas internacionais tiveram como recado principal a importância do aumento das receitas a partir de espaços para comércios e serviços anexos às operações dos metrôs. Uma medida eficaz para custear parte dos processos do sistema de transporte de passageiros.
Em meio às apresentações dos gestores dos metrôs espalhados pelo Brasil, a informação do uso de placas fotovoltaicas no sistema de energia da Estação Guariroba, no Distrito Federal, surpreendeu boa parte do público. Ela serve não para mover os vagões, mas sim para prover a iluminação e as operações nas bilheterias e plataformas. O crescimento em São Paulo do aproveitamento da tecnologia CBTC (Communications-Based Train Control) para o gerenciamento do tráfego dos trens, permitindo frenagens menos bruscas e levando maior conforto e segurança aos passageiros, também chamou a atenção.
A Companhia Metropolitana de Trens Urbanos (CPTM) destacou o uso do sistema de georreferenciamento (por satélite), a fim de minimizar os impactos urbanos, ambientais e legais, de forma mais ágil, ao longo do trecho ferroviário sob sua responsabilidade. Mas foi a expectativa pela conclusão de duas estações em Guarulhos, próximas ao aeroporto internacional, que obviamente polarizou o interesse do público.
Em março, um novo trecho ferroviário de 12,2 quilômetros deve ser concluído, oferecendo três serviços, com viagens diretas para as Estações Engenheiro Goulart, Brás e Luz. Com os guarulhenses tendo acesso aos trens, a tendência é de redução de veículos na Rodovia Presidente Dutra e na Marginal Tietê. Aos interessados em viagens de avião, abre-se uma alternativa para fugir do trânsito com os automóveis.
Guarulhos abrigará ainda um pátio da CPTM, no São João, que servirá de apoio para manutenções e planos estratégicos, como a ampliação das linhas a outras áreas bem populosas. A companhia dá como certa a extensão até Bonsucesso, embora ainda faltem recursos para o projeto executivo, estimado em R$ 40 milhões. O bairro concentra empresas de grande e médio porte de diversos segmentos, com atuações inclusive em âmbito internacional.
As discussões mais focadas no transporte de cargas vieram na sequência e foram o auge do fórum. Por meio da Lei Federal 13.448/2017, que trata das antecipações de renovações das concessões e “pede aditivos” em âmbitos estaduais, especialistas do setor projetam a injeção de R$ 25 bilhões para a ampliação de pátios e a segregação de linhas, entre outros avanços, em cinco anos.
José Carlos Medaglia Filho, presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), autarquia vinculada ao Ministério dos Transportes e responsável pelo Plano Nacional de Logística, afirmou que R$ 132 bilhões serão colocados em consulta pública com vistas ao suporte de infraestrutura de transporte no Brasil até 2025. Parte dos recursos está vinculada ao Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), criado na tentativa de transferir estradas ao setor privado. O executivo apoia o movimento do setor ferroviário para a repactuação das concessões.
Já o secretário de Articulações de Políticas Públicas da SPPI, Henrique Pinto, informou que 146 projetos de logística foram considerados qualificados em um ano e estão sob análise técnica no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Destes, 49 se referem a leilões ou prorrogações das concessões – na área ferroviária estão previstos novos editais.
A defesa da antecipação da renovação das concessões ferroviárias para o deslocamento de commodities, em especial, deve gerar impacto bastante positivo no crescimento das oportunidades de trabalho e no desenvolvimento econômico do País. Por isso, ganhou coro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
“Há um leque quase unânime para a vantajosidade (sic) de se fazer investimentos dez anos antes. Trata-se de uma exceção e a decisão técnica é mandatória. Há necessidade de atualização do marco regulatório, com controle de qualidades dos serviços. Mas há viabilidade a se confirmar”, avaliou o vice-diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp, Luis Felipe Pinheiro.
Diretor-executivo da Associação Nacional de Transportadores Ferroviários (ANTF), Fernando Paes destacou que as seis grandes concessionárias nacionais atuais são: MRS, Rumo, VLI, Transnordestina, Tereza Cristina e Vale. Elas estão ansiosas por um desfecho positivo, embora considerem a possibilidade de judicialização do processo, em face às críticas quanto à necessidade de livre concorrência, entre outras.
“As concessionárias investiram R$ 50 milhões, nos últimos 20 anos, com aumento do número de vagões, por exemplo. Elas ajudam na reabilitação das indústrias e nos empregos”, defendeu o executivo.
Professor, ambientalista e fundador da Organização Não Governamental (ONG) FerroFrente, José Manoel Gonçalves lançou alertas sobre as renovações antecipadas das concessões. Ele criticou a falta de um plano nacional para a expansão das ferrovias e a manutenção de “feudos regionais”.
Quem encerrou os trabalhos foi o secretário de Transportes Metropolitano de São Paulo, Clodoaldo Pelissioni. Ele ressaltou que o Metrô paulista esteve entre os líderes de investimento no País no ano passado, com R$ 2,3 bilhões. O aporte é o menor da companhia nos últimos cinco anos.
Uma série de estações tem previsão de entrega para os próximos meses e anos, mas várias delas estão atrasadas. Pelissioni culpou o rompimento de contratos, dado o envolvimento de construtoras na operação Lava Jato, da Polícia Federal.