Número de pessoas transportadas em trens caiu em função da quarentena, o que também provocou uma grande queda de receita nesse setor.

O movimento nos trens e no metrô, aos poucos, volta ao normal, uma vez que muitos setores da economia já estão de portas abertas, mesmo que com uma jornada reduzida. Com isso, o cenário começa a ficar diferente dos primeiros meses da pandemia, quando houve uma grande queda no número de passageiros usando esse tipo de transporte, embora o setor ainda sinta as mudanças provocadas pela quarentena. No Alto Tietê é já possível perceber que houve uma mudança no transporte público.

Leila Toledo mora em Suzano. Toda semana, ela pega o trem para Mogi das Cruzes em busca de emprego. Ela conta que o movimento de passageiros caiu. “Está muito fraco. Caiu muito. No começo, quando eu trabalhava aqui, era muito movimento. Mas agora caiu muito”.

Em todo o País, o número de pessoas transportadas nos trens e metrôs caiu cerca de 73% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. A queda também foi notada no Estado de São Paulo. Segundo a Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos, a demanda caiu 74%.

“Esse é um serviço de natureza essencial, um serviço social. E é muito difícil. A gente precisa mantê-lo com uma grade de 70% do que se tinha antes da crise, e com uma receita de somente 20% do que se tinha antes da crise. Então isso realmente gerou um transtorno e um risco muito grande para as operadoras”, disse o presidente da associação, Joubert Flores.

Em São Paulo, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, que cuida tanto dos trens, quanto do metrô, estima que a queda no fluxo de passageiros desde o início da pandemia causou uma perda de receita equivalente a R$ 1 bilhão. Aos poucos, o movimento vai aumentando. No período de menor circulação de pessoas, a demanda chegou a apenas 20%. Agora, está na casa dos 40%.

Das sete linhas administradas pela CPTM, duas cortam a região do Alto Tietê. A linha 11-Coral, a mais importante delas, é também a que tem o maior fluxo de passageiros. No mês passado, por exemplo, mais de 141 mil pessoas embarcaram na estação Mogi das Cruzes. Já na estação Suzano, o número chegou a 495 mil. O resultado é que, mesmo com a redução do número de passageiros em relação ao período anterior à pandemia, os trens continuam cheios.

Para reduzir o risco de contaminação, a CPTM intensificou o trabalho de limpeza, com funcionários higienizando a todo instante os trens e as estações. Além disso, a companhia tem operado com 100% da frota nos horários de pico, para diminuir o intervalo entre os trens e, consequentemente, as aglomerações.

O especialista em mobilidade urbana Flamínio Fichmann diz que, mesmo com a retomada gradual do fluxo, o setor ainda vai demorar pra se reerguer.

“Existe entre nós um consenso de que se reerguer vai significar conviver com a perda da demanda e, consequentemente, da receita. A gente vai demorar muito tempo, ou não vai acontecer a retomada total da demanda como era antes da pandemia. Por quê? Porque as atividades ligadas ao trabalho, pelo menos uma parcela vai continuar no home office. E a gente está assistindo também a uma migração pra um deslocamento de automóveis e de motocicletas. Então não vai ser fácil a gente retomar isso no sistema sobre trilhos”.

Para ele, passada a pandemia, o maior desafio vai ser garantir a manutenção adequada das linhas. o especialista acredita que, sem a ajuda do poder público, é possível esperar mais falhas na rede.

“Se não houver um recurso, um acordo, que envolva o governo com as empresas concessionárias, pode haver, sim. Porque essas empresas não vão ter condições de operar no vermelho durante muito tempo, e isso vai impactar em todos os setores dessas empresas. Na operação, na manutenção, tanto dos trilhos quanto da eletrificação, enfim, do próprio equipamento rodante, ou seja, dos trens. Então existe, sim, esse problema”.

Em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos do estado disse que está com “operação monitorada” desde o dia 24 de março, quando começou a quarentena. Desde então, a demanda de passageiros da EMTU, da CPTM e do metrô chegou a 20% apenas e hoje está, em média, em 40% nas três empresas. Com isso, a secretaria estima uma perda de R$ 1 bilhão da receita, considerando todas as concessões e as receitas não tarifárias do sistema.

Clique aqui e assista a reportagem.

29/07/2020 – G1 / Diário TV 1ª Edição

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