Por Roberta Marchesi

Há mais de 20 meses o setor de transporte público vivencia a sua pior crise. A queda abrupta da demanda de passageiros, imposta pela pandemia da Covid-19, e a sua lenta retomada fizeram com que toda a mobilidade urbana passasse por grande dificuldade. Por outro lado, o setor está otimista com o avanço de importantes projetos, principalmente aqueles que envolvem as Parcerias Público-Privadas (PPP).

Em 2021, mesmo com o mercado fortemente impactado, o excelente resultado obtido com a concessão das Linhas 8 e 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) comprova a grande atratividade do transporte metroferroviário de passageiros ao investimento privado. Em pouco mais de 10 anos, a participação privada no setor aumentou mais de 300%. Atualmente, ela responde por 56% das operações no Brasil e esse número poderá ser ainda maior. Com os estudos e projetos em andamento, a operação privada desses sistemas poderá atingir mais de 75% nos próximos 5 anos.

São Paulo, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte são responsáveis pelas 10 obras de expansão em andamento, abrangendo projetos de metrô, trem urbano, Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e monotrilho. Além da sua continuidade, para o próximo ano já estão anunciadas a modernização e expansão do Metrô de Belo Horizonte e a construção do people mover do Aeroporto de Guarulhos, que conectará a Linha 13-Jade da CPTM aos terminais de passageiros.

Com relação às concessões, há diversos projetos em andamento que deverão impulsionar os investimentos para os próximos anos. Estão no radar: a concessão do Trem Intercidades de São Paulo, que conectará a capital à cidade de Campinas, no interior do Estado; a operação do Metrô do Distrito Federal e a construção do VLT de Brasília; e as desestatizações da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb) e da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que já colocou em consulta pública a modelagem para a concessão do metrô de Belo Horizonte, o primeiro de seus cinco sistemas.

Todos esses projetos mostram que o setor não parou durante a crise. Os investimentos estão avançando, não só para a expansão da rede de transporte sobre trilhos, mas especialmente para a qualificação da mobilidade urbana dos brasileiros. Para que essa rede se concretize, entretanto, é necessária a condução efetiva dos projetos, que devem ser geridos numa visão de Estado, com andamento independente de mandatos políticos.

O momento é de otimismo, com a retomada da demanda de passageiros e a ampliação dos investimentos. Mas também de muita atenção com o desenvolvimento de políticas públicas que garantam a segurança jurídica dos investimentos, um novo modelo de financiamento do transporte público e a eficiência da gestão metropolitana de mobilidade.

O transporte público beneficia a todos, inclusive àqueles que não o utilizam. Investir no transporte público significa maior mobilidade, mais sustentabilidade para as cidades e maior qualidade de vida para os cidadãos.

* Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), graduada e Mestre em Economia, com pós-graduações nas áreas de Planejamento, Orçamento, Gestão, Mobilidade e Logística e certificação internacional em Gestão de Transportes Ferroviários e Metroferroviários.

Artigo publicado na Revista Sobretrilhos, na edição de dezembro de 2021.

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