Entenda como funcionará o metrô com a conclusão da estação Gávea, cuja obra deve ser retomada ainda este ano

Operação está prevista para fazer a ligação entre o bairro da Zona Sul e a estação São Conrado. Passageiros terão trocar de trem para fazer o trajeto

26/09/2024 – O Globo

Após o sinal verde dado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) com a aprovação, por unanimidade, nesta quarta-feira, de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que tem o aval do Ministério Público (MPRJ) e a participação do Governo do Estado — por meio da Procuradoria-Geral do Estado (PGE-RJ), da secretaria estadual de Transporte e Mobilidade (Setram) e da RioTrilhos —, da concessionária MetrôRio e das empreiteiras encarregadas do projeto, a expectativa é de que as obras sejam retomadas ainda este ano e fiquem prontas num prazo de dois a três anos. Se não houver modificação na proposta apresentada em maio deste ano, os passageiros que vierem pela linha 4, da Zona Sul ou da Barra da Tijuca, terão que desembarcar na estação São Conrado e trocar de trem para fazer o trajeto até a Gávea. O mesmo será necessário no sentido contrário. Pelo menos neste momento, o projeto original não será realizado na íntegra com a conclusão da alça entre o Leblon e a Gávea.

Em maio, a Setram informou ao GLOBO que faltam apenas 40 metros para o término da escavação da galeria São Conrado—Gávea. Já a ligação Leblon—Gávea, que não está prevista para este momento, ainda precisa avançar mais 1,2 quilômetro. Parte do túnel entre a Estação Antero de Quental e o Alto Leblon já foi aberta pelo “tatuzão” (equipamento empregado na perfuração do solo), que encontra-se parado em uma caverna sob a Rua Igarapava. A máquina não deverá mais ser usada.

A Setram afirma que a alça Leblon-Gávea será concluída quando for feita a expansão do metrô até a Estação Uruguai, sob o Maciço da Tijuca, prevista no traçado do sistema metroviário, mas sem prazo para sair do papel. O trecho pronto (entre a Praça Antero de Quental e o Alto Leblon), garante o órgão, “está estruturalmente finalizado e seguro com aduelas, sem risco à integridade do local”. Segundo o presidente da Associação Fluminense de Preservação Ferroviária, Ricardo Lafayette, a previsão é de que 6,5 quilômetros precisem ser abertos entre as estações Gávea e Uruguai (Tijuca), sob o maciço da Tijuca.

A secretaria estima que a Estação Gávea venha a beneficiar 20 mil passageiros por dia — hoje, o metrô tem, em média, 650 mil embarques diários. Pelo entendimento que está sendo fechado, as obras custarão R$ 697 milhões, sendo R$ 600 milhões arcados pela MetrôRio, e o restante pelo estado. Em troca do aporte financeiro, a empresa terá contratos unificados e a prorrogação da concessão por dez anos, até 2048. Hoje, apesar de operar as três linhas existentes, a MetrôRio tem a concessão das linhas 1 (Uruguai/Tijuca a General Osório/Ipanema) e 2 (Pavuna/Botafogo), e não da Linha 4.

Conclusão em dois anos

O acordo saiu, mas o início das obras ainda levará algum tempo. A expectativa é que sejam necessários pelo menos 60 dias para que todos os trâmites legais sejam cumpridos, incluindo a homologação do acordo pela Justiça. Depois, serão mais dois anos para que a estação seja finalmente entregue aos usuários e passe a integrar a malha metroviária da cidade.

— Precisamos aguardar a publicação dos votos do TCE, o que não deve demorar. Depois, a Procuradoria Geral do Estado precisa do “autorizo” do governador. Feito isso, colhemos as assinaturas e submetemos à homologação judicial. Com a homologação, a obra pode ser retomada — disse Décio Alonso, promotor de Justiça.

O valor a ser gasto pelo governo pode ser ainda maior do que está no TAC. De acordo com o governador Cláudio Castro, serão reservados mais recursos para garantir que, uma vez reiniciados os trabalhos, não haja interrupção.

— Nós temos esse dinheiro no caixa, não temos problema nenhum com ele. E entre o Fundo Soberano, um pouco do Fecam (Fundo Estadual de Controle Ambiental), um pouco do Detran, eu vou separar mais R$ 300 milhões para deixar de reserva. O que não pode acontecer é chegar no finalzinho da obra e não ter dinheiro. A ideia é não usar, mas eu não posso deixar uma obra dessa, depois de tanta luta, ser interrompida de novo — disse o governador, lembrando das idas e vindas até se chegar ao acordo.

Quando a água sair

Vencidas as etapas burocráticas previstas, será o momento de ver qual a real situação do enorme buraco de 35 metros de profundidade onde a estação da Gávea estava sendo construída. Por questões de segurança, para evitar o colapso dos túneis escavados, o local teve que ser inundado em 2017. São, portanto, quase sete anos em que tudo ali está debaixo d’água.

— Teremos depois disso (a homologação do acordo), a montagem do canteiro de obras e a retirada da água. Nós estamos estimando que isso tudo leve 60 dias, mas são coisas que não dependem diretamente de nós. Após a retirada da água, vamos ter que sentar de novo com a imprensa e mostrar se o que encontramos era exatamente o que os laudos falavam, se está melhor ou pior. Aí sim a gente vai poder dar uma ideia de quanto tempo a obra vai levar — disse o governador, se referindo aos relatórios enviados periodicamente pela empresa responsável pela obra.

Na sessão do TCE que aprovou o TAC, o conselheiro Márcio Pacheco, que conduziu os trabalhos, incluiu em seu voto sugestões apresentadas pelo conselheiro Marcelo Verdini Maia, apresentadas na sessão anterior, em 18 de setembro. Na sequência, tanto o relator quanto Verdini votaram pela aprovação do documento. Com voto favorável do conselheiro Christiano Lacerda Ghuerren, o placar foi fechado em três a zero. Impedido, o conselheiro José Maurício de Lima Nolasco não votou.

O secretário estadual de Transportes e Mobilidade Urbana, Washington Reis, que participou ativamente da construção do TAC, comemorou a decisão.

— É um acordo histórico. Foi uma luta de um ano, nove meses e 25 dias (tempo em que ele está à frente da secretaria). Negociamos cada passo, o governador nos deu essa atribuição e conseguimos juntar todos os atores para chegar a esse grande acordo. O mais importante de tudo isso é que assim a gente destrava o sistema, temos projetos grandes para o metrô, mas estávamos impedidos de dar qualquer outro passo devido justamente a esse impasse. Agora isso acabou — disse Reis, se referindo a antigas obras do metrô, aguardadas há anos, como a ligação da Cidade Nova com a Praça Quinze e a construção da Linha 3 (Rio-Niterói-São Gonçalo).

Sem procrastinação

Para o secretário, os prazos de dois meses para retomada das obras na estação da Gávea e de três anos para conclusão — período levantado inicialmente por pessoas familiarizadas com o projeto — podem e precisam ser antecipados:

— O TAC já está pronto. Agora publica, assina e faz o contrato. Não tem motivo para ter mais demora. Da nossa parte, vamos trabalhar 24 horas por dia nisso, é a prioridade da prioridade. As obras serão concluídas em 26, 25 meses. Queremos entregar dentro do governo Cláudio Castro. Vamos cobrar e fiscalizar, a gente não aceita procrastinação.

Embora o governador já tenha se antecipado e determinado a provisão de mais R$ 300 milhões caso seja necessário para concluir esse trecho do metrô, Washington Reis aposta que a obra, conforme acordado, será terminada com os recursos previstos:

— É obra com preço fechado, não tem negócio de choro, nem de aditivo, tem que entregar a obra completa, com trem em funcionamento inclusive — diz.

Só faltam 40m de túnel

Em maio, a Secretaria estadual de Transportes informou ao GLOBO que faltam apenas 40 metros para o término da escavação da galeria São Conrado—Gávea. Já a ligação Leblon—Gávea, que não está prevista para este momento, ainda precisa avançar mais 1,2 quilômetro. Parte do túnel entre a Estação Antero de Quental e o Alto Leblon já foi aberta pelo “tatuzão” (equipamento empregado na perfuração do solo), que encontra-se parado em uma caverna sob a Rua Igarapava. A máquina não deverá mais ser usada.

O TAC chegou ao TCE-RJ em maio deste ano e foi analisado durante quatro meses pelo corpo técnico do tribunal, até ser levado a plenário para votação.

Em nota, o MetrôRio disse que a “decisão do tribunal é de grande importância para o Rio por se tratar de uma solução consensual entre o Ministério Público, o Tribunal de Contas, o governo do estado, o MetrôRio e as empresas responsáveis pelas obras da Linha 4 do metrô”. Acrescentou que o TAC “resolve um problema complexo que inviabilizava o avanço do sistema metroviário na cidade”.

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