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Perspectivas para o investimento

Armando Castelar Pinheiro

Nos quatro anos encerrados no segundo trimestre de 2017, o investimento caiu 29,9% no Brasil como um todo. No mesmo período, o PIB também diminuiu drasticamente, mas bem menos: 6,6%. Eis porque nossa taxa de investimento foi de 21,1% para 15,5% do PIB nesse quadriênio.

Não é incomum que nas crises a formação bruta de capital fixo caia mais que o nível de atividade, também se recuperando com mais vigor na fase de retomada. Na crise de 2008-09, por exemplo, o investimento caiu 17,2% entre o terceiro trimestre de 2008 e o primeiro de 2009, frente a uma contração do PIB de 5,5%. Nos dois anos seguintes, porém, o PIB aumentou 14,5%, enquanto o investimento subiu 38,7%.

O PIB cresceu nos dois primeiros trimestres deste ano e também deve aumentar no segundo semestre. O ritmo de expansão vai acelerar em 2018: a mediana das projeções dos analistas de mercado é de uma alta de 2,6%. Dado esse quadro, é hora de perguntar: e o investimento? Deve ele outra vez ter uma recuperação mais robusta que a da atividade, elevando a taxa de investimento?

Tendência é de uma recuperação cíclica do investimento, mas bem gradual e sem a pujança de viradas anteriores

Há pelo menos dois bons motivos para que o investimento se recupere daqui para a frente. Um é a própria retomada da economia: aos poucos o aumento da produção vai ocupando a capacidade disponível e gerando a necessidade de expansões.

Muito se discute sobre quão rápido isso vai acontecer. Os pessimistas apostam que o PIB ainda vai levar um bom tempo até voltar ao patamar de 2014 e, portanto, não há pressa em expandir a capacidade. Por outro lado, muito da capacidade instalada antes da recessão foi perdida para sempre, por desperdícios ou não ser aproveitável sem os elevados subsídios do passado. Além disso, há uma taxa natural de obsolescência tecnológica e a capacidade ociosa não se distribui uniformemente: haverá setores operando próximos à plena capacidade bem antes de outros.

O outro motivo é a forte queda da taxa de juros, que tem impacto direto sobre as despesas financeiras das empresas. Com esses custos em queda e as vendas em alta, a lucratividade das empresas vai subir e elas terão mais capacidade e interesse em investir. Isso já vem se refletindo nos indicadores de confiança empresarial, que há algum tempo apontam para cima.

Por outro lado, há também fatores que pressionarão o investimento para baixo. Um deles é a péssima situação das contas públicas e, em especial, o ritmo acelerado de alta nas despesas previdenciárias. Como estas devem subir mais que as receitas públicas, outros gastos terão de ser cortados e em geral é investimento público que sofre.

A perigosa dinâmica fiscal também tem impacto sobre as expectativas: até que se tire a dívida pública da sua atual trajetória explosiva, o natural é que o investidor privado se retraia. Essa retração ficará mais evidente com a proximidade das eleições de outubro próximo, que deverão indicar se e o que se pretende fazer em relação ao elevadíssimo déficit público.

O quadro institucional adverso é outro fator que desestimula o investimento. Refiro-me aqui à estrutura e à burocracia tributária, à elevada insegurança jurídica, e ao ambiente de negócios, que o último Doing Business do Banco Mundial mostrou que insiste em não melhorar. A Lava-Jato também elevou o risco das práticas empresariais “antiéticas” e em alguns casos isso parece estar limitando o investimento. Se o governo não fizer reformas amplas nesses setores, eles poderão sofrer por muito tempo.

Por fim, a baixa produtividade das empresas brasileiras reduz a lucratividade dos investimentos, o que torna ainda menos interessante correr os elevados riscos impostos pela má institucionalidade. Não há perspectiva de rápido avanço nessa área.

Sem que essas travas sejam removidas, um maior dinamismo de investimento ficará restrito aos setores exportadores de commodities – agropecuária, mineração e petróleo -, pelo menos enquanto seu preço permanecer favorável.

Porém, mesmo esse cenário pouco otimista oferece riscos. Um deles é que a recuperação da atividade esbarre nos gargalos da infraestrutura, dado o baixo nível de investimento no setor. Um risco claro é de que uma baixa precipitação pluviométrica no próximo verão leve a outro “tarifaço” na energia elétrica, aumentando a incerteza, inclusive eleitoral.

Outro risco é a normalização da política monetária dos EUA, que pode se acelerar com a reforma tributária em discussão no Congresso americano. São riscos que os investidores conhecem e vão pesar na hora de decidir investir ou não.

A tendência, portanto, é de uma recuperação cíclica do investimento, mas bastante gradual e sem a pujança de viradas anteriores. Só daqui a vários anos o nível de investimento deve voltar ao patamar de 2013. A taxa de investimento, portanto, deve permanecer baixa por bastante tempo, contribuindo para nosso quadro de semi-estagnação. São as sequelas de longo prazo da malfadada Nova Matriz Econômica e da insistência em ignorar problemas que há tempos afligem nossa economia.

Armando Castelar Pinheiro é coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV e professor do IE/UFRJ. twitter: @ACastelar.

01/12/2017 – Valor Econômico
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