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Grandes Eventos e Transporte no Brasil – Um Legado para a Mobilidade Urbana

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Os megaeventos são uma oportunidade para melhorar a mobilidade urbana e otimizar a qualidade de vida das pessoas

O legado de megaeventos como a Copa do Mundo da FIFA ou os Jogos Olímpicos é tema de estudo de pesquisadores e especialistas nacionais e internacionais. Essa preocupação é pertinente já que esses eventos acabam levando à transformação das cidades, afetando diretamente a sua dinâmica urbana.

A construção de arenas e as obras de infraestrutura necessárias ao atendimento dos jogos no Brasil consumirão bilhões em recursos públicos e não necessariamente se reverterão em benefícios diretos a quem vive o dia-a-dia das cidades que sediarão a Copa de 2014 ou às Olimpíadas de 2016. Nesse sentido, torna-se imperioso pensar no que resultará para o país quando os jogos forem finalizados.

Quando se pensa em legado urbano a partir de megaeventos, um dos pontos que sempre se destaca, em qualquer país do mundo, é a ampliação e modernização dos sistemas de transporte. Só para se ter uma idéia, esse foi o principal legado deixado para de Barcelona, que abrigou a Olimpíada de 1992, e para a África do Sul, que recebeu a Copa do Mundo da FIFA de 2010. Ambas experimentaram mudanças sensíveis em sua infraestrutura, com investimentos pesados em seus sistemas de transporte, que não só atenderam aos deslocamentos necessários para os jogos, mas que se tornaram melhorias reais para a população depois que os eventos foram finalizados.

O Brasil tem projetos importantes voltados para a mobilidade urbana de atendimento aos jogos, que poderão se tornar uma oportunidade para melhorar a mobilidade urbana e otimizar a qualidade de vida da população nas cidades-sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Em 2012 o Brasil chegou à marca de 2,6 bilhões de passageiros transportados em sistemas metroferroviários urbanos. Só o sistema urbano, que considera metrôs e trens metropolitanos, foi responsável pelo deslocamento diário de mais de 9 milhões de passageiros por dia e os números apontam um crescimento acima de 10% em 2013, chegando próximo aos 10 milhões de passageiros/dia.

Apesar da histórica falta de investimentos para a ampliação da rede metroferroviária de transporte no Brasil, o país tem investido pesadamente no setor sobre trilhos, buscando garantir a mobilidade durante a realização dos jogos e, mais importante do que isso, deixar um legado que contribuirá para melhorar a infraestrutura urbana e para otimizar a qualidade de vida da população nas cidades-sede. São mais de 20 projetos, divididos entre implantação de novos sistemas, ampliação e/ou modernização das linhas existentes e ampliação da frota, num total de mais de R$ 11 bilhões em investimentos.

Com relação às obras de mobilidade sobre trilhos para atendimento às olimpíadas 2016, que acontecerão na cidade do Rio de Janeiro/RJ, o Governo do Estado trabalha com projetos que visam: a renovação de 4 linhas do sistema de trens urbanos do Estado; ampliação e modernização das linhas de metrô; construção das linhas 3 e 4 de metrô; e as 6 linhas de VLT integradas ao projeto do Porto Maravilha, que visa, além da melhoria da infraestrutura de transporte, a revitalização de toda a área central do Rio de Janeiro.

Já as obras de trilhos para atendimento à Copa do Mundo de Futebol da FIFA de 2014, foram estabelecidas como metas a implantação de cinco projetos prioritários: Monotrilho de Manaus/AM; VLT de Cuiabá/MT; VLT de Brasília/DF; Monotrilho de São Paulo/SP (Linha 17); e VLT de Fortaleza/CE.

Embora esses cinco projetos tenham tido recursos garantidos através de um programa voltado especificamente para os projetos da Copa do Mundo de futebol, denominado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para a Copa do Mundo de 2014, quando apurado o balanço acerca da implantação efetiva desses projetos, o resultado é desalentador e mostra que o Brasil ainda precisa desenvolver sua capacidade de gestão de projetos para que possa tornar concretas as obras de infraestrutura previstas.

Dos cinco projetos, três foram retirados da matriz de responsabilidade do governo e não ficarão prontos para a Copa. São eles: VLT de Brasília/DF; Monotrilho de São Paulo/SP (linha 17) e Monotrilho de Manaus/AM. Além disso, o VLT de Cuiabá enfrenta problemas com o Ministério Público e a Justiça Federal e o VLT de Fortaleza problemas na desapropriação de áreas essenciais para a passagem da via, trazendo incertezas para as suas conclusões a tempo de atender aos jogos da FIFA.

A ANPTrilhos defende e propõe a mudança dessa realidade por meio da conscientização dos governantes e da priorização do transporte sobre trilhos no planejamento urbano de nossas cidades. Não só o planejamento, mas a sua efetiva realização.

O momento é propicio. Há vários programas de investimentos para a mobilidade e a infraestrutura do País e o sistema de transporte sobre trilhos deve estar presente nesse plano.

A Copa do Mundo de Futebol da FIFA e as Olimpíadas do Rio de Janeiro estão aí e o maior legado que ficará para as cidades é, essencialmente, a infraestrutura de mobilidade, que será usufruída por toda a população durante décadas e, em especial, pela população menos favorecida que passará a ser incluída através do meio de transporte.

Dessa forma, mesmo que fora do prazo, os projetos já previstos não devem ser abandonados. Eles devem ser concluídos para que atendam à sua grande função social que é garantir a mobilidade do cidadão em nossas cidades.

É importante ressaltar, entretanto, que muito da qualidade do legado que será deixado para o país ou para a cidade depende fundamentalmente de questões políticas. Nesse sentido, chama-se atenção para a necessidade de pensar os projetos que serão desenvolvidos não apenas como uma forma de atender à demanda dos jogos, mas pensá-los com uma visão de futuro para as cidades onde serão implantados. Só dessa forma, é que esses sistemas poderão vir a contribuir de forma efetiva para a melhoria da mobilidade e da qualidade de vida da população.

Como exemplo disso, podemos citar decisão tomada pelo Governo de Cuiabá/MT, que optou por implementar um projeto de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na cidade, deixando de lado um antigo projeto de linha exclusiva de ônibus. Com a sua implantação, a cidade receberá um sistema de alta capacidade de transporte que contribuirá para a mobilidade, garantindo à população um sistema moderno, rápido, seguro, que ainda contribui com a redução da poluição e com um menor índice de acidentes.

É importante destacar, ainda, que a realização de grandes eventos acaba produzindo externalidades positivas em torno do planejamento e da gestão de transporte e mobilidade das suas cidades-sede, que contribuem para aumentar ainda mais o legado deixado após os jogos em benefício das suas cidades.

Fortemente impulsionados pelos grandes jogos que acontecerão no Brasil, os Governos Federal, Estaduais e Municipais têm elaborado Planos e Programas com o objetivo de garantir recursos para os investimentos nas áreas de transporte e mobilidade. Dentre os programas privilegiados por esse esforço estão os destinados à construção e melhoria dos sistemas de transporte de passageiros sobre trilhos. Estes projetos têm recursos garantidos através de programas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2) e PAC da Mobilidade Urbana e visam, em sua maioria, a aplicação de recursos em novos projetos ou ampliação de projetos existentes.

Com 30 projetos bastante adiantados, grande parte já em licitação/execução, o Brasil pode vir a dobrar sua malha metroferroviária de passageiros até 2020. São 793 km em novos projetos de trilhos, que incluem metrôs, veículos leves sobre trilhos (VLT), monotrilhos e trens regionais. Podemos destacar, ainda, o trem Brasília-Luziânia, com seus 200 km de extensão. Embora não se acredite que os projetos estarão finalizado num horizonte de 6 anos, ainda é possível que os tenhamos concluídos em prazo muito próximo a esse.

É importante pensar o transporte urbano, em especial o transporte sobre trilhos, não apenas como um meio para atender aos grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, mas como um sistema público que envolve a locomoção de grandes massas de pessoas, concentradas em locais e tempos muito restritos, o que exige a adoção de meios tecnológicos mais modernos e avançados. Nesse sentido, a capacitação financeira das empresas operadoras torna-se fundamental para a garantia da perenidade dos investimentos em tecnologias de informação e de comunicação, que tornarão os sistemas urbanos capazes de atender aos deslocamentos da população com qualidade e regularidade.

Os megaeventos são uma oportunidade para que os países melhorem a sua mobilidade urbana e a Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) apoia a iniciativa do governo brasileiro em aproveitar essa oportunidade para pensar seus projetos de transporte público além dos eventos da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, buscando deixar para a população um legado que contribua para otimizar a sua qualidade de vida.

por Roberta Marchesi Superintendente da ANPTrilhos

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