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Demanda continua devagar

A renovação antecipada de cinco concessões ferroviárias continua sendo a grande expectativa no mercado de locomotivas e vagões para evitar que a crise econômica tenha efeitos mais profundos no segmento neste ano. Enquanto reduzem o ritmo da produção, as empresas buscam fortalecer a posição com uma dose de inovação e outra de exportação.

Em 2016, o faturamento alcançou R$ 6,6 bilhões, mais de 6,5% na comparação com o ano anterior, conforme a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). Desse total, os vagões para carga responderam por cerca de 40%, sendo os outros 60% destinados ao transporte de passageiros.

Apesar da estabilidade na receita, os números oscilam. A produção de 4.683 vagões em 2015, o terceiro melhor resultado da década, não se repetiu no ano passado, quando foram produzidas 3.903 unidades, e, se confirmada a atual previsão da entidade, deve-se chegar ao fim deste ano com algo entre 2,3 mil a 3 mil vagões.

Para as locomotivas, atingiu-se o recorde com a produção de 129 unidades em 2015. Mas em 2016, houve retração para 109 unidades e pode-se encerrar este ano com cem itens. Já a produção de carros de passageiros registrou 476 unidades no ano passado e há previsão de 278 em 2017.

“Muito desse resultado é acomodação natural do mercado. Se o cenário permanecer, poderemos ter alguns reflexos negativos, inclusive no emprego”, diz Vicente Abate, presidente da Abifer.

Pelo cronograma do governo, a primeira renovação antecipada deverá ser da Malha Paulista, administrada pela Rumo ALL, que tem previsão de capacidade de transporte de 75 milhões de toneladas até 2023. “Só neste caso poderemos ter investimentos de R$ 4,5 bilhões nos próximos anos”, afirma Abate.

O processo da Rumo passou por audiência pública. Abate acredita que muitos dos entraves existentes serão superados, o que deverá acelerar as demais renovações. Estão na fila da renovação antecipada de concessões a MRS Logística, que atua na região Sudeste, a Estrada de Ferro Vitória-Minas, a Estrada de Ferro Carajás e a Ferrovia Centro-Atlântica.

“A instabilidade econômica e política interferiu em projetos e investimentos de qualquer empresa no país, e o setor metroferroviário, diretamente conectado às iniciativas de políticas públicas, não esteve imune”, afirma Michel Boccaccio, presidente da Alstom Brasil e vice-presidente sênior da Alstom na América Latina. Ele diz que houve restrições orçamentárias de Estados e municípios para grandes obras.

Somado a esses fatores, o mercado foi afetado pelo envolvimento das grandes empreiteiras na Operação Lava-Jato. “As empresas médias têm dificuldade para comprovar experiência e obter sucesso ao crédito que pode alavancar obras civis de infraestrutura e transporte”, afirma.

Para Boccaccio, a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que visa estimular e melhorar o transporte público nas cidades, é importante ação para o setor. “Hoje, cidade com mais de 20 mil habitantes são obrigadas a elaborar esse plano em até três anos, de forma integrada ao Plano Diretor e condicionada ao recebimento de recursos federais para os projetos”. Há ainda possibilidades de Parcerias Público-Privadas (PPPs), como a iniciada pelo governo baiano para viabilizar o VLT em Salvador.

Marcos Costa, CEO da GE Transportation para a América Latina, acredita que o país precisa conscientizar-se da importância de investimentos em infraestrutura de transporte. “É só olhar a área de agronegócios, que é a que mais cresce, e onde ela está localizada. O transporte precisa ser uma prioridade”.

Ele também aposta na renovação antecipada das concessões para estimular a retomada dos investimentos, assim como em novos projetos a serem lançados. Costa considera que o mercado de locomotivas, por enquanto, está estável. Mas quer garantir o crescimento da empresa em outras áreas além da produção, como serviços e soluções digitais, que hoje representam cerca de 30% da receita da companhia. “Queremos aumentar esse percentual ainda este ano”.

Como parte das soluções digitais que apresenta ao mercado, está um sistema desenvolvido em parceria com a Vale que permite conduzir automaticamente os trens da empresa por meio de um computador de bordo, similar ao piloto automático dos aviões. A solução, denominada de Trip Optimizer, foi testada durante três anos em quatro locomotivas na Estrada de Ferro Carajás, período em que houve economia de combustível de até 2,45%. “Quando o sistema estiver todo implantado, a economia será de R$ 35 milhões por ano na compra de diesel”.

A GE Transportation passou a oferecer ainda o monitoramento on-line, via sensores instalados nos trens. Os dados em tempo real ficam disponíveis em um centro de monitoramento da empresa e permitem ações preditivas, como evitar acidentes ou verificar a necessidade de manutenção em algumas máquinas.

Para a Alstom, a exportação tem sido uma aliada para enfrentar a crise econômica. “As duas fábricas da Alstom no Brasil são capazes de atender a demandas [trem, VLTs e metrôs] que possam contribuir para a melhoria da mobilidade urbana na região ou até em outras partes do mundo, assim como estão preparadas nossas equipes de manutenção, modernização e sistemas de sinalização de infraestrutura”, diz Boccaccio.

A empresa participa de um dos maiores projetos de transporte mundial, o Prasa, na África do Sul, que terá um total de 600 trens, com os 20 primeiros já sendo produzidos pela Alstom localmente. Na América Latina, possui vários projetos em andamento, como um novo contrato para o fornecimento de 139 carros para a Linha 1 do metrô de Lima, no Peru, e 245 para as linhas 2 e 5 do metrô de Santiago, no Chile, além de outros na Venezuela, México, Panamá, Santo Domingo e Argentina.

Mesmo em meio à crise, houve espaço para mais investimentos das empresas. A Greenbrier anunciou em maio que ampliou a sua participação no capital da Greenbrier-Maxion, em Hortolândia (SP), de 19,5% para 60%. Também aumentou a participação acionária na Amsted-Maxion Cruzeiro, de 19,5% para 24,5%.

30/06/2017 – Revista Valor Setorial – Valor Econômico
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