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27 Silvas cujas vidas se revelam em trilhos

Nenhuma família pode dizer que está “nos trilhos” com tanta propriedade como os filhos e netos de Deodoro José da Silva. Quando este mineiro de Coimbra se mudou para a Vila de Paranapiacaba, em Santo André, região metropolitana de São Paulo, ele abraçaria uma profissão que seria seguida por boa parte de seus familiares: a de ferroviário.

A história começou há exatos 80 anos. Em 1937, como atesta a velha carteira de trabalho, Deodoro foi admitido para trabalhar na São Paulo Railway, a empresa responsável pelas locomotivas do trajeto Santos-Jundiaí. De lá para cá, já são 26 os herdeiros que foram ou ainda são ferroviários – o patriarca morreu em 1986, aos 79 anos.

Neto de Deodoro, Elias Pereira da Silva, de 47 anos, é um deles. Ele ingressou na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em 1997. Trabalha como segurança. E acabou se tornando memorialista ferroviário. “Guardo em minha casa itens e documentos que ajudam a contar esta história.” Nas férias, acaba aproveitando para conhecer outros trilhos e trens. Já embarcou na mítica Central do Brasil, no Rio, e também passeou em locomotivas na Suécia, na Dinamarca e na Holanda.

Os 27 Silvas do trem quase encheriam um vagão, é a piada que eles costumam fazer quando reunidos. Sergio Ricardo Rodrigues, de 48 anos, também neto de Deodoro, diz que procurar emprego na companhia ferroviária foi natural. “Toda a família já estava engatilhada nisso”, conta ele, que hoje é encarregado de uma estação. Sergio lembra que a linha do trem passava nos fundos da casa dos avós, em Paranapiacaba. “Era uma alegria para a gente ouvir o trem passar”, diz.

Claudinei dos Santos Silva, de 45 anos, conta que entrou como bilheteiro “porque tinha mais vagas”, mas seu sonho mesmo era se tornar maquinista. Três anos depois, no ano 2000, conseguiu a transferência interna de cargo. “Quando tinha 11 anos e passei de ano na escola, ganhei um Ferrorama de presente do meu pai”, recorda-se. “Isso sempre foi atiçado em casa.” Ele lembra que, na infância, era com seu pai, Raimundo, agente de trens de carga, que visitava e se encantava com as estações (Raimundo José da Silva morreu em 2003, aos 70 anos). Agora, repete o ritual com a filha Isabelly, de 5 anos.

As memórias de infância também estão presentes na cabeça de Márcio Henrique Rodrigues, 41 anos, outro dos netos de Deodoro. “Acordava com o barulho do trem. E ia dormir com o barulho do trem”, resume ele, que vivia em Paranapiacaba. Agente de segurança operacional, ele entrou para a CPTM em 1996.

Seu primo Marcos Roberto dos Santos Silva, de 40 anos, também trabalha na segurança – mas no departamento de inteligência. “Meu setor investiga de roubos a fraudes”, explica ele. “Quando entrei para a companhia, em 1996, minha ideia era ficar um ano. Acabei gostando. Ferrovia está no sangue.”

Técnica de transportes, Delmira dos Santos Silva, de 53 anos, é fiscal de limpeza da CPTM. Está na ferrovia há 32 anos. “Foi meu primeiro emprego. Meu único emprego”, conta ela. “Quando eu era jovem, moradora de Paranapiacaba, olhava e este emprego era a única opção. Seguir os passos do pai era a luz no fim do túnel.” O único emprego acabou sendo epicentro de dois casamentos. “Fui casada por 20 anos com um ferroviário. Agora moro há sete com outro ferroviário, com quem vou me casar em dezembro”, diz.

Outro dos netos de Deodoro, Laercio Rodrigues, de 48 anos, bem que tentou construir a vida longe dos trilhos. Fez sua carreira em empresas metalúrgicas. Mas aí, três anos atrás, quando ficou desempregado, o DNA parece ter falado mais alto. Hoje atua na manutenção de trens em uma das oficinas da CPTM. Sua filha Kelly Cristina, de 25 anos, é técnica em enfermagem “mas está esperando abrir concurso para também entrar na ferrovia”.

Condução. Entre 1965 e 1988, Reynaldo da Silva, filho de Deodoro, foi agente de trem. Era um tempo em que cabia a esse profissional “dar a partida” nas locomotivas. “Eu apertava um botão que fechava as portas e o trem começava a andar”, conta ele, hoje com 78 anos.

Aposentado, Reynaldo mora em uma casa a poucos minutos da estação de Ribeirão Pires. “Até tenho um carro parado na garagem, mas minha condução é o trem.”

16/05/2017 – O Estado de S.Paulo
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